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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sonetos Expurgos IV ✒📃 🎼





A nova sentença


Ela chega sorrateiramente com seu véu da morte
Sentenciando cruelmente com sua ímpia armadura
Condenando os novos doentes de sul a norte
A nova peste negra embala seus mortos em sua tortura

Seria esta a nova gripe espanhola?
Não há vacina, não há cura, talvez não haja sorte
Estaríamos todos condenados á morte?
Pelas próprias mãos do homem que se julga tão forte

É esperar para ver, e talvez assim crer
Que a cura possa vir nas asas de um anjo
Ou quem sabe nas mãos de algum otimista

Que consiga vencer a força furiosa da natureza
E saber que foi das nossas próprias mãos
Que fomos condenados á esta sentença


🌷


Dom divino


Tão bela e tão distante de mim
De longe vejo teus olhos luminosos
A olharem solitários para mim
Que luz é essa que de teu olhar reluz?

Seria esta nossa cruz?
Amar-nos á distancia sem ao menos nos beijar
Ah! Como seria se o sol pudesse o mar tocar
Com beijos de fogo e de luz

O amor enfim se faria amar
E a videira da vida frutificaria
Como um vinho nosso amor seria

E a glória enaltecer-se-ia em seu altar
Com sua luz dourada nos coroaria
Com o dom divino de amar


🌷


Temperanças


Mulheres com suas temperanças
Me tiraram o absinto da garganta
Quando me acalentava nas horas amargas
Tentando remeter-me á esperança

Pequenos castelos desmoronados na areia
Levados pelas ondas de um mar traiçoeiro
Ainda havia sonhos á serem sonhados
E momentos passageiros

Que talvez tivesse ao longo de uma vida
Mesmo com destroços e feridas
Viveria cada momento

Como um pássaro que se remete ao horizonte
Chegaria ao firmamento
Mesmo sabendo que o horizonte não tem fim


🌷



Epicentro


Duas montanhas se colocam á minha frente
E com minhas mãos acaricio seus cumes
Lentamente o vulcão se torna mais quente
Acariciando-me com suas lavas escumes

Tirando de seu epicentro o magma incandescido
Provocando terremotos e tremores
Sentindo sentidos que ainda não foram sentidos
Sentimentos de desejos e de amores

É no fremir das mãos que os corpos dançam
Como se estivessem num jardim coberto de magmas
Onde a lava mistura-se ao perfume e aos ardores

De dois corpos que se amam
E o amor ali declamam
De um livro sem palavras


🌷



Amor navegador


Esse amor no meu peito se vai
Como uma lágrima que se lança ao abismo
Um velho barco lançado no mar
Perdido e sem abrigo

Que navega em ondas solitárias
Em volto á tempestades e tufões
Carregando sua carcaça esmigalhada
Destruída por ferozes corações

Corações que machucam sem querer
Ou querer talvez para não sofrer
Apenas frágeis corações á se defender

Do meu amor navegador, sem direção, sem pouso
Que está sempre á deriva, nas ondas da vida
Em busca de algum porto


🌷





💙


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