Translate

domingo, 10 de novembro de 2019

A lenda de Aldegaron 🔱




A lenda de Aldegaron 🔱


-Não brinque, Moloch, conheço estorias horríveis sobre estes demônios.
As carnigeras foram amaldiçoadas por um demônio poderoso e maligno.

O príncipe pede para que Anut fale sobre as carnigeras.

-Diga-nos, Anut, como estas mulheres se transformaram nas carnigeras?
Elas são demônios ou feiticeiras?

-Estas mulheres foram amaldiçoadas.
Se corromperam com suas luxurias e seus vícios.
Elas eram escravas em um harém que ficava nesta ilha, quando ainda era Antares. Vieram de todos os cantos da esfera azul, trazidas por seu mestre, Aldegaron.
Ele as doutrinava para servirem o mal.
Elas vendiam o corpo em troca de moedas de ouro e pedras preciosas.
Todas as riquezas que elas conseguiam entregavam para Aldegaron.
Em troca, ele dava a elas poções mágicas.
Estas poções eram alucinógenos poderosos.
Elas não conseguiam viver mais sem estas poções.
Elas então enfeitiçavam os homens com sua beleza e sedução, tirando tudo deles. Destruindo suas famílias, e fazendo muitos matarem-se uns aos outros por ciúmes e inveja. 
Muitos definharam por entre as pernas das carnigeras.
Antes elas não eram assim, mas foram tentadas por Aldegaron, que lhes oferecera uma vida coberta de luxo, ouro, e aquilo que alimentava suas almas perdidas, suas poções mágicas.
Elas fizeram um pacto com este demônio.
Aldegaron lhes prometera além das poções, beleza eterna em troca de suas almas.
Só que esta beleza eterna durava apenas cem anos.
Depois elas se transformavam em demônios, e eram escravizadas por Aldegaron por toda a eternidade.

Baltar quer saber mais sobre Aldegaron.

-Como é este demônio, Anut? 
Ele é mesmo tão poderoso assim como dizes?

-Acredite, príncipe fenício, não ias querer ver este demônio na tua frente.
Aldegaron é um dragão negro, servo de um outro demônio muito mais forte e poderoso que todos que existem.
Acreditem, eu não ousaria pronunciar seu nome aqui.
Pois ele é o senhor de todas as trevas, o mestre da maldade.
Aldegaron desde o princípio, serve seu mestre.
O senhor do mal o deixou mais poderoso, o transformando em um dragão.
Um dragão negro e maligno.
Os dois demônios selaram um pacto.
Aldegaron teria que corromper os homens e criar vários exércitos em nome do mal. Quando todos estivessem corrompidos, ao conquistar várias terras por ganância e poder, derramando sangue de vários inocentes, a esfera azul teria um grande desequilíbrio.
E seu mestre, o senhor das trevas, seria libertado, e conquistaria toda a esfera azul.
Dizem que a cada cem anos, Aldegaron transforma-se em homem, e fica nesta forma por seiscentos e sessenta e seis luas.
Ele seduz várias mulheres, e as leva para seus haréns.
Aldegaron sempre escolhe uma das belas mulheres que aprisiona para ser sua esposa. E através de uma profunda magia, a aprisiona por toda eternidade, condenando-a a viver para sempre na forma de um demônio.
Aldegaron é um dos demônios mais temíveis que existem.
Mas não se preocupem, ele foi aprisionado a mais de mil anos por um mago que possuía uma magia muito poderosa.

Isthar, ironicamente diz:

-Um dragão? Já vi muitos dragões, Anut.
Mas nunca vi nenhum dragão ser dono de um harém.
Acho que tu tomaste uma destas poções alucinógenas.

- Cuidado com o que diz, Isthar.
Aldegaron pode querer soltar-se de sua prisão, então tu pagaras por tuas infames.
Se tu começares a chamar as Carnigeras elas virão até ti e irão te devorar.

O príncipe mais uma vez pergunta a Anut.

-Mas se elas estão amaldiçoadas por toda a eternidade, porque iam querem nos matar?

-Elas ainda servem a Aldegaron.
Nossas energias o fortalecem.
Elas irão nos seduzir, então a amaremos.
Não vamos resistir a suas belezas e encantos.
Nenhum homem resisti ao prazer que elas oferecem.
Elas irão nos enfeitiçar, e quando estivermos alucinados de desejo, derramaremos nosso néctar em seus ventres demoníacos, expelindo nossas energias ao vazio.
Pois é isto que fortalece Aldegaron.
O que sobrará para as carnigeras?
Nossa carne!! Nada além de nossa carne.
Elas irão devorar nossa carne enquanto nossa alma cai na escuridão.

Isthar mais uma vez contradiz Anut.

-Isto é bobagem.
Já matei vários dragões.
Não são tão poderosos assim.
Cansei destas tuas estórias, egípcio.
Vou dormir!!!
Se as carnigeras aparecerem, me acordem.
Já estive em vários haréns, e nunca ouvi falar sobre estas carnigeras, ou as odaliscas do dragão.
Posso dizer, que eu conheço todos os haréns e tavernas que existem além de Sidon. 
Daria tudo para estar com lindas mulheres agora.
Isto é bobagem, egípcio.

Jabnit aproxima-se da fogueira.
Está ringindo os dentes.
Ele então olha para todos, que estão sentados.
Começa a tossir.
Parece estar meio engasgado.
Depois de engolir a saliva, ele diz:

-Já ouvi falar destes haréns.
Agora existem poucos, mas estão espalhados por toda a esfera azul.
Dizem que as mulheres são as mais lindas que existem.
São verdadeiras princesas.
Os haréns são palácios luxuosos, cobertos de ouro e pedras preciosas.
Também estão espalhados nos desertos, em tendas luxuosas com as mais finas sedas. Dizem que todos os haréns tem um emblema de um dragão negro em suas entradas. 
Lá só entram os mais ricos e poderosos.
Dizem que quando não se tem mais ouro, os homens oferecem sua própria alma em troca dos prazeres das lindas mulheres.
Depois de amarem as odaliscas de Aldegaron eles são sacrificados com um punhal de ouro, e a alma é entregue ao dragão.
Dizem que as servas tem sua marca.
Uma tatuagem de um dragão negro no corpo.
Ouvi dizer também que o dragão copula com suas servas, as deixando cada vez mais malignas e mortais.

Hamilcar revela conhecer uma outra historia sobre Aldegaron.

-Já estive em vários haréns, mas nunca ouvi falar destes haréns do dragão.
Mas lembro-me quando era menino, de meu pai me contar uma estória assustadora. Sobre um grande exército que existiu a milênios atrás, conhecido como a ordem da serpente. 
Um exército comandado por um dragão negro.
Seu emblema era uma naja negra com os olhos vermelhos, e suas cores eram negras e cinzas. 
Era um exército sanguinário.
Incendiava as cidades, matando todas pessoas.
Mas felizmente foram vencidos por um outro exército,  conhecido como a ordem da luz. 
Seus guerreiros vestiam-se de branco e dourado.
Seu emblema era um sol nascente dentro de uma pirâmide.

Anut conclui as palavras de Hamilcar.

-A ordem da luz venceu várias batalhas, mas a ordem da serpente era muito mais poderosa. 
Aldegaron conquistava muitas riquezas corrompendo homens de toda a esfera azul,  e tinha vários guerreiros em suas mãos.
Então travaram uma batalha.
Dizem que foi a maior batalha entre o céu e as trevas.
A ordem da serpente, através de uma profunda magia, estava vencendo a batalha, que já durava noventa luas.
Até que um grande mago apareceu, e com sua magia poderosa, derrotou Aldegaron e seu exército das sombras.
Que era liderado por seu filho, o príncipe negro.
A ordem da serpente fora vencida pela ordem da luz.
Impedindo que o pai de todos os demônios fosse libertado.
Naquele momento, a esfera azul voltou a ter equilíbrio, e os guerreiros da ordem da luz espalharam-se, para impedir que a ordem da serpente renascesse novamente.
O grande mago e Aldegaron se enfrentaram em várias outras batalhas que houveram depois desta. 
Pois o dragão queria vingar-se da morte de seu filho.
Ele tentava criar um exército tão poderoso quanto aquele, mas não conseguia.
A ordem da luz se tornara invencível.
No último confronto entre os dois, Aldegaron estava enfraquecido.
E o mago cada vez mais poderoso, usou uma forte magia, e o aprisionou em outra dimensão. 
O colocando dentro de uma esfera de cristal.
Depois disto, os descendentes da ordem da serpente continuaram a criar exércitos. 
Mas nunca chegaram a ser poderosos.
Há mais de mil anos que não se vê o negro e cinza das cores do emblema da ordem da serpente.
Até hoje muitos acreditam no despertar do dragão.

Baltar percebe que o mal é muito poderoso, e agora a maldição de Antares fazia mais sentido.

-Se este dragão for libertado, ele criará um novo exército , e o senhor do mal será libertado. 
Se isto acontecer, a esfera azul morrerá, e todos ficarão presos na escuridão. 
Agora entendo porque Milesiano falara em manter o equilíbrio da esfera azul. 
E como é importante que as três doutrinas cheguem em todas as ilhas, para que os homens jamais esqueçam o grande criador e de seu nobre propósito, de evoluir na luz.

Diga, Anut?
Este dragão pode ser libertado?
Quem é capaz de libertar este demônio?

-Somente um demônio que foi doutrinado pelo senhor das trevas pode libertar Aldegaron. 
Quando isto acontecer, as portas do inferno se abrirão, e o mal governará. 
As três doutrinas serão esquecidas para sempre, e todos os homens serão escravizados nas trevas.

Jabnit coloca mais galhos ressequidos na fogueira.
O som de uma coruja ecoa por toda a floresta retorcida.
Todos estão sem sono.
Apenas Isthar está deitado no chão, mexendo-se de um lado para o outro.
Jabinit revela conhecer várias estórias sobre Aldegaron, e começa a contar a mais sombria de todas.
Os homens em volta da fogueira estão curiosos, e preparam-se para ouvir sua estória sombria.


Lágrimas de um guerreiro celta 🔱


-Em uma de suas metamorfoses, Aldegaron já havia aprisionado várias mulheres em seus haréns. 
Então saiu em busca de uma nova esposa, para viver com ele até se completarem as seiscentos e sessenta e seis luas em que ele estaria em sua forma humana. 
Ele partiu para Gália, e foi visitar um vilarejo.
Ouvira falar de um povo celta que vivia naquela região, e que as mulheres aram lindas. 
Aldegaron quando estava em sua forma humana, era muito belo e sedutor. 
Estava sempre com a aparência jovem, e se passava por um príncipe vindo de algum lugar distante. 
Usava roupas luxuosas.
Seu cabelo era negro e comprido, e na maioria das vezes o usava preso.
As mulheres jamais conseguiram resistir aos seus encantos e sua beleza.
Ele era sempre simpático e bondoso.
Todos ficavam encantados com sua presença.
Quando chegou ao vilarejo, ele ficou encantado com as lindas mulheres que lá viviam, e foi convidado pelo o ancião para uma festa.
Um casamento de um guerreiro e uma princesa celtas.
Seria uma grande festa.
A aldeia estava linda, pois eles também iriam celebrar o aniversário de sua Deusa.
A Deusa mãe, Dana.
O vilarejo ficava escondido em uma floresta, que diziam ser mágica.
Os celtas sempre habitaram as florestas.
Eram peregrinos, e nunca ficavam em um único lugar.
Sete luas antes do ritual do hieros gamos, o casamento sagrado, a princesa foi apresentada a Aldegaron.
Ela era linda.
Dizem que era a mulher mais linda de toda a esfera azul.
Seu corpo era perfeitamente desenhado.
Seus olhos eram azuis como o céu em dia belo e mágico.
Seus cabelos eram compridos e cacheados, negros como a noite.
Seu nome tinha o reflexo de sua beleza.
Ela se chamava Malena.
Aldegaron ficou encantado por aquela linda mulher, que havia despertado nele algo jamais despertado.
Ele então usou todo seu charme e sua sedução para conquista-la.
E pela primeira vez, uma mulher não caiu nos seus encantos.
Malena amava profundamente seu futuro esposo.
Um dos guerreiros mais nobres de todos os celtas.
Ele ainda não havia chegado a aldeia,  pois estava se preparando para o ritual sagrado, e só iria chegar uma lua antes da cerimônia do hieros gamos.
Aldegaron não aceitou o descaso de Malena.
Ficara completamente apaixonado por ela.
Ele então, desesperado, consultou seu mestre.
Que lhe ofertou uma magia maligna para enfeitiçar a princesa.
Aldegaron colocou o feitiço em um rubi vermelho, preso á um cordão de ouro.
Era uma pedra linda e encantada, capaz de fascinar qualquer mulher da esfera azul.
Ele então procurou a princesa em sua tenda, e lhe entregou o presente, despedindo-se. Malena aceitou o presente de Aldegaron.
Seus olhos brilharam quando ela viu o rubi.
Quando a noite chegou, as estrelas foram cobertas por uma nuvem escura.
E um calor misterioso se fez em toda floresta.
Malena acordou-se ofegante, e sentindo um calor em todo seu corpo.
Ela pegou o cordão de ouro com o rubi, e o colocou em seu pescoço.
Ela estava nua, e sentia um desejo incontrolável.
Seus lábios tremiam enquanto ela passava as mãos por entre as pernas.
Seu corpo queimava como fogo, ardia como uma brasa incandescente.
Derrepente, um vulto surgiu no canto te sua tenda.
A silhueta de um homem foi ganhado forma ao encontro das fendas, iluminadas pela luz de um castiçal. 
Eis que surgi na frente de Malena, Aldegaron completamente nu, com uma taça de licor na mão.
Ele a ofereceu a Malena, que estava sedenta.
Ela bebeu o licor em um único gole.
Seu corpo queimava cada vez mais.
O rubi vermelho dançava entre seus seios, que tremiam de tanto desejo.
Ela olhava para Aldegaron, que a observava atentamente.
Como um coiote que eestá prestes a devorar sua presa.
Malena entregou-se nos braços do demônio, lançando seus lábios ao beijo da morte. Aldegaron deliciou-se, acariciando cada parte do corpo maravilhoso de Malena, que estava prestes a perder sua virgindade,  entregando-se por completa para aquele desconhecido. 
Com a fúria de um animal, Aldegaron possuiu Malena entre as sedas molhadas de desejo. 
Neste momento, os lobos uivaram na floresta, e os trovões bradaram no céu. 
O guerreiro celta estava á um dia da aldeia.
Ele estava em seu cavalo branco, que galopava fortemente, como se estivesse voando no chão, correndo mais do que o próprio vento.
O guerreiro sentiu um aperto em seu coração, como se fosse um punhal atravessando o peito. 
Ele tinha pressa.
Sentia uma forte presença do mal.
Mas o tempo era seu inimigo.
Por mais rápido que seu cavalo galopasse, parecia estar preso no tempo.
O tempo que sempre escravizou os homens.
Dizem que o número do tempo representa o mesmo número de luas em que Aldegaron vive em sua forma humana.
Enquanto o guerreiro seguia firmemente, Aldegaron consumia-se ao delicioso prazer, após romper o botão de corola de Malena.
Que estava completamente entregue ao demônio.
Os amantes amaram-se a noite inteira, até a última estrela desaparecer do céu.
E assim ao nascer do sol, Aldegaron levou Malena em seus braços.
O povo não acreditara no que vira.
Viram a princesa ser levada pelo forasteiro em um cavalo negro de asas, que rasgou o céu como um relâmpago.
Naquele momento, o guerreiro celta entrou na aldeia, e com seu coração disparado, percebeu que algum mal havia se obtido ali.
Era o dia de seu casamento, seu hieros gamos sagrado.
Suas lágrimas apaixonadas choraram junto a uma chuva fina que caia sobre todo o vilarejo. 
Parecia que toda a natureza entristecera-se junto com o guerreiro.
Que jurou vingar-se daquele demônio maligno.



A maldição de Malena 🔱


Hamilcar pergunta a Jabnit.

-Mas o que aconteceu com a princesa?
Aldegaron a levou, e o que ele fez?
A transformou em um demônio também?

-Aldegaron levou Malena para uma terra distante, coberta de montanhas.
Era um lugar sombrio, e a léguas dali existia um rio que diziam ser encantado.
Era naquela terra montanhosa que Aldegaron queria criar seu exército invencível. 
Pois todos os exércitos que ele havia formado desde o principio, não tiveram êxito.
Poucos conhecem ou já ouviram falar deste lugar.
Uma terra misteriosa que guarda um grande segredo.

Baltar está intrigado e quer saber mais sobre aquela estória.

-Conhecemos muitos lugares, Jabnit, desbravamos várias terras.
Nós já estivemos lá?

-Não, príncipe Baltar, nunca estivemos naquela terra misteriosa.
Se tivéssemos conhecido aquela terra, jamais a esqueceríamos.
Todos que ouvem suas estórias jamais esquecem.
Lembro-me que quando meu avô me contava tais estórias, eu não conseguia dormir de tanto medo. 
É lá que os mortos vivem eternamente.
Caminhão na escuridão.
São demônios terríveis e cruéis, que foram amaldiçoados desde que nasceram.
Um único demônio é capaz de devastar uma cidade inteira.

Hamilcar coloca mais galhos no fogo.
Um frio gelado se faz em toda floresta retorcida.
Os ventos assoviam, enquanto corujas e lobos cantam para lua prateada.
Que está escondida pelas nuvens negras que cobrem o céu.
Hamilcar pergunta, encolhendo-se de frio.

- Como eram estes demônios, Jabnit?
E como foram amaldiçoados?

-Malena é mãe de todos estes demônios.
Ela gerou o primeiro em seu ventre, e como uma praga se espalharam.
Deixe-me lhes contar sua estória sombria.
Por mais que Malena estivesse enfeitiçada por Aldegaron, em alguns momentos, quando vinha a si, ela percebia o que havia acontecido.
Ela ainda amava seu guerreiro, mas não conseguia ter forças para se libertar daquele feitiço maligno. 
Aldegaron a possuía todas as noites.
E cada vez escurecia mais sua alma.
Ela continuava linda.
Cada dia que passava, ela se tornava mais linda.
Aldegaron a amava profundamente.
De todas as mulheres que ele escravizou, Malena era a única capaz de despertar o amor em seu coração sem vida.
Ele sabia que enquanto ela estivesse enfeitiçada, o amaria.
Mas não era o bastante.
Ele queria que ela o amasse para sempre, por toda a eternidade.
Seus dias como homem estavam acabando, pois as seiscentos e sessenta e seis luas estavam se aproximando do fim.
Ele sabia que quando se tornasse dragão, o feitiço que havia colocado em Malena iria consumar-se. 
Por mais que ele a prende-se, jamais teria seu amor verdadeiro.
Ele então procurou seu mestre, o senhor de todas as trevas.
Aquele que conhece todos os segredos da escuridão.
Pediu para que o ajudasse a manter o feitiço em Malena.
Seu mestre lhe falara, que a única maneira de manter Malena por toda a eternidade, era envenenando sua alma, a transformando em um demônio.
Assim como Aldegaron transformou-se ao querer servir seu senhor maligno.

Moloch chega mais perto da fogueira, e pergunta:

-O que Aldegaron fez com ela? 
A transformou em um dragão também?

-Acredite, Moloch, foi algo terrível.
Somente um demônio poderia realizar esta magia.
Um demônio conhecedor das magias das sombras.
Malena teria que morrer e renascer nas trevas.
Ele a trancafiou em uma gruta escura e sombria, a deixando sem água e sem comida. Malena sofreu agonizadamente.
Não tinha forças nem para gritar.
Nas profundezas da escuridão, ela podia ver os olhos vermelhos dos morcegos que saiam da escuridão para sugar seu sangue.
Ela ouvia as vozes das almas malignas, que iam atormentá-la com seus espectros demoníacos. 
Naquele momento, nas profundezas da escuridão, seus pesadelos eram reais. 
O próprio senhor dos demônios á visitava, e possuía seu corpo.
No sexto dia, Aldegaron apareceu.
Ele trazia consigo uma botija de barro.
Malena estava fraca.
Mal podia se ouvir sua respiração.
Ela stava pálida e gelada, como se estivesse morta.
Aldegaron aproximou-se com a botija, e a alimentou.
Malena estava faminta e sedenta.
Ela tomou todo o liquido que Aldegaron trouxera para ela.

Moloch está impressionado com a estória, e quer saber mais.

-O que havia na botija, Jabnit?
O que Malena bebeu?

-Era sangue!!!
Ela bebeu sangue puro.

Baltar assustado, pergunta:

-Era sangue de animal, Jabnit?
Que animal era?

-Não era sangue de animal, meu príncipe.
Era sangue humano!!
Sangue inocente e puro.
Aldegaron foi até um vilarejo que ficava ali perto, e com seu feitiço encantou a todos. 
Ele então realizou uma magia profunda e maligna.
Com toda sua maldade, ele sacrificou uma criança.
Arrancou o recém nascido dos braços da mãe, e com sua magia negra, tirou todo o sangue do inocente.
Levou o sangue para Malena, que bebeu cada gota do sangue que estava na botija.
Ele fez exatamente como seu mestre mandara.
Realizou aquele ritual macabro por mais duas vezes.
Sempre no sexto dia, ele sacrificava um inocente.
Tinha que ser uma criança que ainda não tivesse completado seus seis anos de vida. Quem contou esta estória  para meu avô, foi um velho feiticeiro que ele conhecia desde pequeno. 
Meu avô dizia que este feiticeiro era um guerreiro da ordem da luz.  
Ele contou que ao completarmos seis anos de vida, as impurezas da maldade tentam nos corromper. 
A escuridão aproxima-se de nós, e apresenta seus sortilégios, contaminando nossa mente e nossa alma.
Somos tentados por uma força, que quanto mais nos aproximamos dela, mais nos contamina. 
Sentimentos de ódio, inveja, rancor, e a mentira.
Estes sentimentos deixam de ser apenas reflexos, para se tornarem existentes.
Sem querer somos contaminados desde pequenos.
Até os cinco anos, todos tem o equilíbrio supremo.
A pureza de sua essência.
Somos protegidos pelo nosso grande mentor invisível.
Nosso mentor guardião.
Que nos protege de todo o mal.
Quando completamos seis anos, um outro mentor apresenta-se a nós de maneira sorrateira. 
E mostra seus sortilégios.
Os dois mentores travam batalhas constantes pela nossa conduta.
Um representa o bem, a luz do caminho.
O outro representa o mal, a escuridão sem fim.
O velho feiticeiro falou que somos nós que escolhemos nosso caminho.
Somos guiados pelo caminho do equilíbrio, onde o amor a igualdade, e a bondade caminham juntos em direção a luz. 
Ou somos guiados pelo caminho do desequilíbrio, onde a escuridão nos aprisionará por nossos pensamentos maus, e sentimentos não nobres. 
Então caminharemos para traz, e cada vez mais nos aproximaremos da escuridão.
Aldegaron precisava de essências puras.
Essências que representassem a pureza do criador.
Só assim ele poderia inverter a grande magia da existência.
Sacrificando três inocentes, ele poderia gerar um ser nas trevas.
Foi assim, depois de completada esta magia maligna, que Malena nasceu nas trevas. Tornado-se imortal como Aldegaron.

-O que aconteceu, Jabnit?
Ela virou um demônio?

-Sua alma havia escurecido, príncipe Baltar.
Ela não ficou com a aparência de um demônio.
Continuava bela, porém, uma beleza sem vida.
Pois seu coração não batia mais.
Por ter se afastado da luz, a evitava.
Transformou-se então, em uma criatura noturna.
E sua sede por sangue aumentara cada vez mais.
Até que Aldegaron, não levou mais seu alimento precioso.
Dizendo-lhe, que se ela quisesse se alimentar, que fosse buscar seu sangue.
Por alguns dias ela tentou resistir, sugando o sangue de alguns animais, como cabras selvagens, e até mesmo de roedores.
Mas sua sede não passava.
O sangue dos animais não era como sangue humano.
Malena tentava resistir.
Pois dentro dela, ainda existia uma fagulha de bondade.
Um pequeno feixe de luz.
As doutrinas que sua Deusa Dana havia lhe ensinado, ainda sobreviviam naquele corpo sem vida. 
Mas ela não resistiu.
Sua sede por sangue humano era muito voraz.
Desesperada e faminta, ela foi até o vilarejo.
Era uma noite escura, e uma neblina cobria todo o céu.
Malena sabia de sua sina.
Tentava resistir á cada passo, com todas as forças que ainda lhe restavam.
Ela então foi a um rebanho de ovelhas que ficava próximo ao vilarejo.
Um pastor que se preparava para ir para casa, estranhara aquela linda mulher no meio da noite. 
Aproximou-se dela, perguntando o que ela fazia ali.
Malena aproximou-se do jovem, que estava encantado com sua beleza.
Seus olhos azuis reluziam naquela penumbra, como duas lanternas iluminadas.
Seu corpo estava radioso.
Fazia muito frio.
Malena estava coberta apenas por uma manta de seda vermelha, deixando algumas partes de seu lindo corpo á amostra.
Ela estava descalço, e usava apenas duas tornozeleiras de ouro em uma das pernas. Que quando ela caminhava naquela neblina, tocavam como sinos em uma noite pagã. 
O jovem pastor não conseguia tirar os olhos de Malena.
Suas pernas brancas e macias, eram moldadas pela seda vermelha, que deslizava em todo seu corpo perfeito.
Um perfume delicioso exalava entre suas pernas, despertando os instintos do jovem. Que naquele momento, estava alucinado de desejo.
Malena então agarrou suas mãos, e as colocou em seus seios fartos e rosados.
Ele ajoelhou-se diante daquela beleza incomparável, enquanto ela desenrolava a manta de seu corpo tentador.
E ali, completamente nua, beijou o jovem pastor, que mergulhou profundamente naquele beijo ardente.
Ele não percebera que aquele seria o seu beijo da morte.
Malena queria algo mais além do beijo.
Queria sua alma.
Ela então deitou-se ao relento, enquanto o jovem alucinado, despia-se, rasgando suas roupas. 
Como um animal faminto, possuiu aquela linda mulher.
Que naquele momento mágico, também sentia um desejo voraz.
Enquanto ele consumia-se naquele delicioso prazer.
Malena o arranhava com suas unhas negras e compridas, rasgando sua carne.
O cheiro de sangue que saia das costas dele, deixara Malena ainda mais sedenta.
O tempo parecia ter parado como que por encanto.
Até que o silêncio rompeu-se, pelos gemidos do jovem, ao consumir-se por inteiro no fogo ardente do ventre de Malena.
Podia ver o coração pulsando em seu pescoço.
Naquele momento, Malena sentiu uma fome incontrolável.
O desejo pelo sangue a aguçava cada vez mais.
Suas presas cresciam, enquanto sua boca salivava por aquele néctar precioso.
Ela então mordeu o pescoço do jovem, e sugou seu sangue.
Enquanto ela saciava sua sede, o corpo do jovem tremia.
Pois este estava se aproximando cada vez mais da morte escura.
Malena sugou todo seu sangue, deixando apenas um corpo ressequido,  estendido no chão. 
E ali, naquela noite que parecia não ter fim.
Malena apresentou-se das trevas para o mundo dos homens.

-Então foi isto que aconteceu, Jabnit?
Aldegaron transformou Malena em uma vampira?

-Malena foi a primeira vampira que nasceu nas trevas para habitar nosso mundo, príncipe Baltar.
Ela é a senhora de todos os vampiros !!!
A mãe de todos os demônios das sombras.

Hamilcar acrescenta suas palavras.

-Os vampiros são pragas.
São como uma doença maligna.
Dizem que ao sugarem teu sangue, transformam-te em vampiro também.
Muitos se entregam aos vampiros pela imortalidade.
Mas o que adianta ser imortal e não poder ver o sol?
Viver eternamente na escuridão.
Ser apenas um cadáver, sem coração e sem luz. Com sua alma presa nas trevas para sempre.

-O príncipe está curioso, e indaga mais sobre a estória de Malena.
Moloch e Hamilcar também querem saber mais sobre aquela estória sombria.
Enquanto que Anut está um pouco distante dos demais.
É o único que não está sentado perto do fogo.
Está na penumbra, com seu olhar sinistro.
Observando os fenícios e suas estórias de vampiros.

The Orion Flame






Alexsandro Ribeiro 🔮






Nenhum comentário:

Postar um comentário