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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Surpresa no pântano 💀





Surpresa no pântano 💀


-Até agora eu não consegui entender, Anut.
Como te livrastes das Carnigeras?

-O que queres saber, Hamilcar?
Assombras-tes por eu ter me livrado da morte?
As Carnigeras tentaram me seduzir.
Eu também fui enfeitiçado por elas.
Quando vi, estava perdido, embrenhado na floresta.
Corri para o outro lado da montanha.
Tentando me livrar dos demônios.
Para minha sorte, encontrei os Morfiros.
Os malditos me paralisaram com seus escorpiões, e me levaram para as cavernas. Quando acordei, estava amarrado na mesa de pedra.

-E vejo que se livrar dos Morfiros, foi mais fácil que se livrar das Carnigeras.

-Vocês, fenícios são mesmo estúpidos, Hamilcar.
Estranhei estar sozinho na mesa de sacrifício.
Havia apenas uns três demônios, protegendo a caverna.
O veneno dos escorpiões não estava mais fazendo efeito.
Consegui soltar uma das mãos.
E após me libertar, matei os malditos.
Quando estava saindo da caverna, eu pude ver o pobre homem que ia me substituir. 
O próximo a ser sacrificado pelos Morfiros.
O estúpido do Isthar estava dormindo como uma donzela adormecida.
Imagine quando ele acordou e viu seus órgãos serem tirados um a um.
Pena que eu não fiquei para assistir.

O que estas dizendo, Anut?
Tu vistes Isthar ser levado pelos demônios e não o salvou?
Não fizeste nada para impedi-los?
Tu és um maldito, Anut.
Te livraste dos Mórfiros, porque eles estavam fazendo companhia para nós lá em cima. 
Como pode ver Isthar ser levado e não ter feito nada?

-Não sejas ingrato, fenício.
Se tivesse ficado para salvar Isthar, além de arriscar minha vida, não teria salvo a de vocês.

Jabnit também intrigado, questiona Anut.

-E como soube que estávamos lá em cima, egípcio?
Não vais me dizer que subiu até a montanha da morte para nos salvar.

-Fui em busca da lamparina.
Pensei que tivessem sido mortos pelos Morfiros.
Queria ter pelo menos uma chance para me livrar desta ilha maldita.
Quando cheguei em uma das cavernas, perto do topo da montanha.
Ouvi suas vozes irritantes.
Me deparei com dois Morfiros.
Tirei o tridente de um deles e os matei.
Então vi a fenda no chão.
Vi que vocês estavam ali.
E pelo que me lembro não estavam se divertindo.
Por isso não seja ingrato, fenício.
Poderia estar bem longe agora, se não tivesse ficado para salvar vocês.
Não acredito no que meus olhos vêem.
Estamos na floresta retorcida de novo.

Ao se aproximarem da floresta retorcida, Jabnit pergunta:

-Estamos muito longe da torre, Anut?

-Se seguirmos sem descanso por dentro da floresta, talvez de um dia de caminhada.

- E não há nenhum atalho que possamos chegar mais rápido?

-Logo ali adiante encontraremos os pântanos.
Se atravessarmos á nado, chegaremos do outro lado da floresta.
Assim diminuiremos o caminho.
A torre está bem na entrada da ilha.

Hamilcar desabafa aliviado.

-Pelo menos nos livraremos das Carnigeras.

-Eu não diria isso, fenício.

-O que?
Não vai me dizer que estas malditas também nadam.

-Elas não, fenício, os Aligatz.
Esqueceu que os pântanos são habitados por estes demônios?
São piores que as Carnigeras.
São demônios horripilantes.
São venenosos.
Se nos cuspirem nos olhos, ficaremos cegos.
E se ingerirmos o veneno deles, morreremos.

-Poderia ter nos dito isto quando já estivéssemos nadando.

-Desculpe por estragar a surpresa, fenício.
Vejam!!!!!
Ali estão os pântanos.
Preparem suas espadas.

-E tu, Anut?
Vai enfrentá-los com as mãos?

-Eu não preciso de espadas, fenício.

Os homens entram no pântano, que está coberto por uma nevoa espessa.
As árvores retorcidas estão cobertas de musgos,  e de uma planta negra, parecida com uma trepadeira. 
Dentro do tronco de algumas árvores, há uma estranha e pegajosa gosma esverdeada.
Como se estivesse conservando algo.
Hamilcar, intrigado, quer saber o que é.

-Que coisas são essas, no tronco das arvores?

-Ali é onde os Aligatz guardam a comida, suas sobras.
Os malditos também são carnívoros.
Além de devorarem os animais da ilha, eles também devoram os demônios.
Para sua sorte, eles não saem dos pântanos.
Porém quem entra aqui, não sai mais.

Hamilcar quer saber mais sobre os Aligatz.

-Como são estas criaturas, Anut?
Eles tem pele de cobra como as Carnigeras?
São pequenos como os Morfiros?

-São pegajosos.
Parecem lagartos em corpos de homens.
Não te iludas, fenício.
Diferente dos Morfiros, os Aligatz tem dois metros de altura.
Estranho até agora não terem aparecido.
Vejam!!!!
Ali está o lago, que nos levará até o outro lado da floresta.
Aconselho vocês a nadarem com a espada na mão.

Jabnit também intrigado comenta.

-Estou tendo um mau pressentimento.
Parece que estamos sendo observados.
Este é o lago que temos que atravessar?
É muito extenso.
Hamilcar não vai conseguir nadar com este ferimento na perna.

-Não te preocupes comigo, Jabnit.
Esqueceu que sou como um peixe.
Este ferimento não é nada perto dos que já tive.
Pelo que me lembre.
De todos nós, tu és o único que não se agradas muito da água.

Anut como sempre sorrateiro, diz.

-Um fenício com medo da água?
Hora, quem diria, Jabnit.
Bem, se eu tivesse uma pança do tamanho da tua, eu também me preocuparia.

Derrepente, ouvisse um barulho.
E Hamilcar estranha uma gosma amarelada, gotejando em seu ombro.
Os homens ficam apreensivos.
Exceto Anut, que sem dar importância, caminha em direção ao lago.

-Por Astartéia!!!!
O que é isto escorrendo no meu braço?
Que coisa nojenta.

Jabnit então grita.

-Hamilcar!!!!
Cuidado!!!!
Olhe para cima.

Hamilcar consegue se abaixar, antes que a criatura lhe pegasse o pescoço.
O monstro então salta diante dos fenícios.
Ele é alto.
Sua cara parece a de um lagarto, com uma boca de peixe.
Os olhos são grandes e amarelados.
Não tem escamas.
Sua pele é bem lisa.
Suas veias são vermelhas e salientam-se no abdômen e no pescoço.
Tem uma grande barbatana nas costas e nadadeiras, em baixo dos braços e nas pernas.
Suas mãos também são grandes.
Parecem nadadeiras com garras.
Seu corpo é verde, coberto por uma baba viscosa.

-Por Astartéia!!!!
Ele é horrível.
É mais alto que tu, Hamilcar.

-Pode ser mais alto, mas duvido que seja tão forte quanto eu.
Vamos mostrar pra ele o peso de nossas espadas fenícias, Jabnit.

Hamilcar e Jabnit partem pra cima da criatura, que emite um chiado pela a boca e arregala os olhos, olhando para todos os lados.
Os fenícios cercam o Aligatz.
O monstro ataca.
Mas os guerreiros são mais ágeis e conseguem mobiliza-lo.
A criatura cai de joelhos no chão, e Hamilcar o decepa.
Anut então diz.

-Porque demoraram tanto?
Já poderíamos estar na metade do lago.

-Porque não veio ajudar, Anut?
Por Astartéia!!!!
Esta gosma não quer sair da minha espada.

-Vamos, fenícios!!!
Ou preferem esperar que mais Aligatz apareçam?
Estes pântanos estão minados destes lagartos.

Os homens entram na água.
Um lodo verde e viscoso, coberto por uma planta escura e pegajosa.
Jabnit quer saber sobre aquela estranha planta.

-Que planta é esta, Anut?
Parece que está morta.
E que cheiro é este?

-Eram lírios d’água.
Perderam a beleza e a essência quando a ilha foi amaldiçoada.
Vejam, fenícios!!!!
Daqui dá pra ver a torre.
Espero vocês do outro lado.

Anut mergulha, nadando rapidamente.
Hamilcar olha para Jabnit e comenta.

-Como esse egípcio pode nadar assim?
Parece que foi criado na água.
Vamos, Jabnit!!!!
Não vamos perder para, Anut.

Anut segue em frente, enquanto Hamilcar e Jabnit tentam alcança-lo.
Jabnit então percebe algo estranho.

-Por Astartéia!!!
Alguma coisa encostou-se à minha perna.
Uma coisa grande.
Tu também sentiste, Hamilcar?

-A ultima coisa que eu senti na minha perna, foi o tridente daquele maldito Morfiro. 
Deve ter sido algum peixe.
Continue nadando, Jabnit.
Não pare.
Estamos quase alcançando o egípcio.

Derrepente, Jabnit grita.

-Hamilcar, socorrrrrrro!!!!!

Hamilcar olha para traz e não enxerga Jabnit, que sumira repentinamente. Espantado, ele começa a gritar.

-Jabnit, por Astartéia
Onde tu estas, Jabnit ?
 Jabnit????

Hamilcar se desespera.
Ele então mergulha na esperança de encontrar o amigo.
Submerso, o fenício só consegue enxergar as algas embrenhadas no lodo verde. 
Intrigado, mergulha mais fundo, e se debate com uma cena horrível.
Ele vê Jabnit sendo atacado por três Aligatz.
Ele esfrega os olhos, e percebe que no fundo do lago fica a colônia dos monstros.
E nota que mais Aligatz se aproximam de onde eles estão.
Sem perder tempo, Hamilcar parte para ajudar o amigo.
Ao se aproximar, ele soqueia um dos Aligatz.
Jabnit consegue se soltar.
Ele está quase inconsciente pela falta de ar.
Ele então saca suas espadas, deixando uma cair.
Mesmo assim, consegue cortar a barriga de uma das criaturas.
Que ficam mais ágeis na água.
Hamilcar pega Jabnit e o leva para superfície.

-Jabnit, por Astartéia.
Temos que sair daqui.
Estamos bem em cima do viveiro dos bichos.
Venha, amigo.
Agarre-se em mim.
Nadarei por nós dois.

Hamilcar percebe que Jabnit esta sem fôlego.
Ele então entrelaça os braços do amigo em volta de seu pescoço, e começa a nadar. Mesmo com a perna machucada, e o peso de Jabnit, ele consegue se afastar dos Aligatz.
Enquanto Hamilcar se esforça para chegar até a margem, Anut sai do lago.
E ao olhar os fenícios em apuros.
Senta-se, e começa a rir.
Depois de muito esforço, Hamilcar consegue se aproximar da beira do lago.
Jabnit respira aliviado ao ver a floresta se aproximando.
Mas logo um frio lhe vem á barriga, ao ver pequenas bolhas de ar borbulhando mais á frente.

-Hamilcar, que bolhas são aquelas, ali, perto da margem?

Hamilcar olha para as bolhas e é surpreendido por um Aligatz, que salta á sua frente. 
Hamilcar se joga para traz, deixando Jabnit escorregar.
Derrepente, mais dois Aligatz saem das águas.
Hamilcar luta com duas das criaturas, enquanto Jabnit enfrenta o outro Aligatz.
Que o mobiliza na beira do lago.
Hamilcar então grita para Anut.

-Anut, ajude Jabnit, depressa!!!!

Anut levanta-se e cruza os braços, não dando a mínima importância para o que está acontecendo.
Hamilcar se enfurece com a atitude de Anut.
Ele então pega sua espada.
E usando toda sua força, consegue cortar um dos Aligatz no meio.
Jabnit está quase sem ar.
O monstro o estrangula.
Ele então consegue levar suas mãos as costas, sacando sua espada, a cravando na barriga do Aligatz.
A criatura grita.
E em um ato de raiva, cospe uma gosma na cara de Jabnit.
Que vela suas mãos ao rosto, tentando tirar o veneno.
Hamilcar percebe o que acontecera.
Ele chuta a barriga do monstro, cortando-lhe à cabeça.
E parte para ajudar o amigo.
Enquanto corre, o outro Aligatz prepara-se para aniquilar Jabint.
Que grita, desesperado.

-Não estou enxergando!!!!
Por Astartéia!!!
Hamilcar, me ajude.
Não estou enxergando!!!!!
Eu estou cego!!!!

A criatura ergue suas garras afiadas, pronta para dar seu golpe final.
O monstro então é surpreendido, ao ver uma espada atravessando seu peito. 
Hamilcar o abatera pelas costas.
O Aligatz brada, em seu último suspiro.
E cai morto á beira do lago.
Hamilcar levanta Jabnit, acalentando o amigo.

-Jabnit, por Astartéia.
Tu estas bem?
Responda, Jabnit?

-O maldito me envenenou, Hamilcar.
Estou cego.
Meus olhos estão queimando.
Não me sinto bem.
Acho que ingeri um pouco do veneno.
Sinto dores em minha cabeça.
Não me deixe morrer, Hamilcar.
Não me deixe morrer.

-Acalma-te, Jabnit.
O príncipe Baltar deve estar se aproximando da torre.
Logo ele a acenderá.
Quando voltarmos para trirreme, o mestre druida saberá o que fazer.
Ele deve conhecer algum antídoto para estancar o veneno.
Venha!!!!!
Levanta-te.
Agarre-te em mim.
Fique firme, amigo.
Logo chegaremos.

Anut se aproxima dos fenícios dizendo.

-Gostaram da surpresa?
Eu disse que os Aligatz eram diferentes das Carnigeras.
Eles nunca desistem.
Posso dizer que vocês tiveram muita sorte.
Sãos os primeiros que conseguem sair vivos dos pântanos.
Ou melhor, meio vivos.
Duvido que Jabnit cheque até a trirreme com vida.
Logo o veneno vai se espalhar no sangue, e irá paralisar o coração.
O ar diminuirá nos pulmões, e Jabnit morrerá asfixiado.

-Anut, ainda tenho forças para cortar-te a cabeça.
Se disseres mais uma palavra, eu o matarei.
Jabnit não vai morrer!!!!
Mestre Milesiano encontrará um meio de salva-lo.

-E como achas que o druida irá salvar ele , fenício?
Só resta mais uma badalada do sino.
E a torre ainda não foi acesa.
O príncipe falhou em sua missão.
Todos estão condenados.
Todos morrerão.

-Príncipe Baltar conseguirá acender a torre.

-Sem querer tirar-lhe a esperança, fenício, mas acho que será impossível.
O tempo já está se esgotando.
O céu é testemunha da franqueza do teu príncipe.

Hamilcar olha para o céu e nota que algo está se formando.

-Por Astartéia.
Que feitiço é este?
O que é isto que está se formando no céu?

Jabnit assustado pergunta.

-O que está acontecendo,  Hamilcar?

-Não sei, Jabnit.
É gigantesco.
Parece ser feito de ouro.
Que feitiço é este, Anut?

-Este é o pendulo do tempo.
Quando ele se formar no céu.
O pendulo balançará seis vezes.
Quando completar a sexta volta.
O sino tocará sua nona badalada.
Não temos mais chances, fenício.
É tarde demais.
A nona badalada breve irá tocar.
A ilha fantasma mais uma vez cumprirá seu legado.

Hamilcar cai de joelhos, desolado.
Jabnit mesmo sem enxergar, tenta consolar o amigo.

-Baltar conseguirá, Hamilcar.
Acredite.
O príncipe acenderá a torre, antes que o pendulo se forme no céu,
concluindo a nona badalada.
Ele conseguirá.
Acredite.
Baltar irá acender a torre com a chama de Orion.

O pêndulo vai surgindo no céu como um símbolo da morte.
A angustia toma conta de Hamilcar e Jabnit.
Anut entra num estado de êxtase.
E parece adorar o pêndulo que está se formando.
Enquanto isso, Baltar completa sua travessia no rio subterrâneo.
E ao se aproximar da saída do túnel, vê a escada que leva á torre.
Seu coração bate fortemente.
Ele senti um frio na espinha.
Ele sabe que o tempo está se esgotando.
Ele sabe que precisa correr contra o tempo.

The Orion Flame 







Alexsandro Ribeiro 🔮

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