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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sonetos Expurgos III ✒📃 🎼





Para aqueles que assim me julgaram morto


Morro um pouco á cada dia
Sem saber do que estou morrendo
Sinto as dores das feridas
E o sangue morno escorrendo

O que é um corpo apodrecido
Mesmo estando vivo nas lacunas do tempo?
No coração cansado as cicatrizes
De amores e vícios infelizes

Se estou morto, então de mim tão pouco resta
Pois aqueles que me mataram
Morrem todos os dias em suas angustias

E suas lágrimas frias não pouparão suas friezas
Morro, mas também morrem comigo
Profundamente apodrecidos em suas tristezas


🌷


Linhas da criação


Olhos de Tesla veem a eletricidade
Nos pilares da criação
Nebulosas que se expandem com facilidade
Nos confins da escuridão

Onde uma pequena anã brilha luminosa
Dançando com os cometas e as super-novas
Que surgem como diamantes na expansão
E os Galileus Galileis á sorrirem com seus telescópios

Enquanto as mãos do criador se abrem
Deixando mais espaços na imensidão
Os Newtons formulam, enquanto os Einsteins calculam

A misteriosa fórmula da criação
Que fórmula é esta que tanto procuram?E porque procuram?
Se já está gravada nas linhas da nossa mão


🌷



Ilusionista


Em minhas mãos se esconde a magia
Sem jogo de espelhos e cartolas
Sou capaz de fazer escurecer o dia
E transformar um dia em uma hora

Ao cortar-te ao meio
Sou capaz de revivê-lo
Porém a dor que sentires
Não poderás conter

Pois em ti lançarei minhas facas
Deixando expostas tuas cicatrizes
Para que todos possam ver teu sorriso no fechar das cortinas

Em meu grande ato, far-te-ei flutuar
Levemente como flocos de cinzas
Não sou mágico nem bruxo, apenas ilusionista


🌷


Inquietude


São apenas dois passos para o paraíso
Se caminhares até os meus braços
Prometo-te, dar-te-ei abrigo
Mesmo tu estando amarrada á estes laços

Prometo estar sempre contigo
O quanto bom seria se tu fosses minha
E duvido que alguém ousaria
Tirardes de mim seria como um castigo

Como seria o mar sem o céu?
E as estrelas sem o firmamento?
Como seria um jardim sem flores?

E a chuva sem o vento?
Seria como um amor solitário
Á soluçar inquieto, pranteando dentro do peito


🌷


O último monólogo


Meus dias passam lentamente como serenas marolas
E nenhuma cortina se abre diante de mim
Sinto meu corpo preso á uma corrente coberta de argolas
Vejo meu começo chegando perto do fim

Um monólogo que encena seu último ato
Segurando sua caveira com as mãos sujas de sangue
Declamando seu poema para as cadeiras vazias do teatro
Deixando cair uma última lágrima escondendo o vexame

Nem um alento seria capaz de sarar tal ferida
De que adianta o brotar das palavras
De uma peça que jamais será lida

Morrerá com sua arte o pobre artista?
Talvez um dia alguém o descubra
E assim reconhecido, não mais morrerá


🌷





💙






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