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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Notas Rubras ♥ ✒📃





O gótico



Eu sou o poeta da escuridão
que semeia em frios jardins
flores mortas
com as pálidas mãos

Sou o ser escuro
que vigia a noite
com o olhar de vampiro
buscando encontrar a beleza
que se esconde em cada sombra

Meus olhos pintados de preto
vêem o que não pode
ser visto
pelos olhos mortais

Eu sou a bruma noturna
o ouvido dos
Gárgulas
nas catedrais

Eu vagueio nos céus escuros
onde os olhos dos
corvos
brilham
no mágico crepúsculo

Nas trevas
vejo a luz
que poucos ainda
produz
e na terra onde os seres
do dia
rastejam
plano suavemente com
minhas asas de
anjo negro

Minha solidão
devora as horas
esperando o dia terminar
até cair sobre mim
o manto da noite
onde sonho acordado
sem despertar

Meus versos escritos
com sangue
deslizam como uma chuva tépida
nos prédios abandonados
onde deixo o lamento de um mundo
doente
gravado

Doenças deixadas pelos seres
do dia
que destroem o mundo
com sua ímpia enfurecida
Quem são os estranhos?
Ou seriam os loucos?

Deixe-me só com minha tristeza
pois o que resta é chorar
afinal, alguém precisa chorar
então
que seja eu
o ser da escuridão
o Nosferatu

Deixe-me acender minha fogueira
na terra das almas mortas
quero deitar-me sobre as lápides frias e tortas
deixadas pelos seres
de outrora

Deixe-me cantar
nas entranhas escuras
"Close to me"
o mundo está doente
talvez não há mais cura
alguém precisa chorar
então que seja eu
o ser da noite escura






Escrito sobre linhas tortas


As palavras que chegam a estas linhas
são formadas pela força de um intelecto
que ao exprimir a verdade contida nelas
permanecerá viva, mesmo escrita em linhas tortas
como uma fotografia apagada
ou uma paisagem morta
Há sempre uma lembrança
um sentimento que se faz latente
mesmo desgastado nas linhas do tempo
Não há limites para uma força expressiva
mesmo se escrita em linhas partidas
Talvez o silêncio silencie a morte
Talvez o pranto silencie o trovão
Mas o sentimento transformado em palavras
sobreviverá, atingindo um ápice contínuo
assim como o amor é para os poetas
e uma lágrima, para um coração partido





Flores mortas de um jardim sombrio


O meu jardim sombrio semeia flores do mal?
Esta é a pergunta que faço
Sempre quando venho colher as flores
Deste jardim escuro
As flores mortas não tem perfume
Não tem cor, nem luz
Apenas um caule ressequido
Mas como podem ser do mal?
Se não há espinhos
Mesmo mortas
Cuidarei deste jardim
Talvez um dia ele volte á florescer
Quem sabe, na próxima primavera?





Última melodia


Derramo meus dedos sobre este piano, como um rosto que se alinha á um ombro.
Tentando cessar as lágrimas que deslizam incessantes na turba alvar de um coração entristecido.
Ao percorrer o teclado, procuro encontrar uma única nota, um sustenido, que se firme ao firmamento do meu peito.
Me envolvendo por inteiro, ao alaúde formado pelo teu espírito.
Minhas mãos  tocam Für Elise como se estivessem tocando teu corpo, quando tocado á primeira vez que nos amamos, onde dois corações pulsavam no mesmo ritmo. Segundos de prazer nos elevava ao Adágio, ao Allegro, como uma luz purpúrea, que ao cair sobre um mar revolto, desprende-se do horizonte, seguindo a extensão sem fim. Essa era a nossa fantasia, fazíamos amor como uma sinfonia, que ao tocar, emudecia os anjos.
Ainda sinto o perfume da tua pele em minhas mãos, que agora declamam a 9ª Sinfonia, composta no silêncio.
Mas que grande ironia!!!
Mas agora tu estas longe dos meus braços e do meu coração
De que me adianta tocar esta maravilha?
Espero que o tempo em outra vida me faça te encontrar novamente.
O amor que sinto por ti é imortal como esta linda sinfonia
Minhas lágrimas agora descem neste piano, descendo por sua calda fria, que antes de silenciar suas notas, toca triunfalmente, esta última melodia.






Apocalíptico


Do céu cairão luzes
E no mundo dos anjos
Um silêncio anunciará
Uma nova era
Que chegará com as pedras
Que chegará com o fogo
Alimentando os dragões
Onde uma terra escura
Apresentará seus brasões
Brasões de morte
Brasões de fúria
Não terá fim
A tempestade
As paredes cairão
Sobre o sal de mármore
E as lágrimas levarão
E virão
Estancando
O sangue negro
Onde lágrimas de medo
Voltarão
A chorar
No semblante
Do seio
Da terra
A serpente descerá
Sobre o solo vermelho
E estenderá
Seu tapete de sangue
Onde os famintos
Comerão
Sua própria carne
Assim se sucederá
Até o vento soprar
As areias do tempo
Então o leão do Sul
Chegará
E enfrentará
O escorpião da morte
Com uma espada
De ouro
Ele vencerá
E do vidro nascerão
As primeiras sementes
Serão lírios
Lírios da paz
Lírios de gente.....






O circo dos horrores


Entrem, entrem senhores!!!!
O circo dos horrores tem o orgulho de
apresentar suas maravilhas!!!
Sigam pelo corredor.
Mas cuidado!!
Não se aproximem das jaulas!!
não toquem nas criaturas!!!

Vejam o grande pã
o encantador da floresta
metade homem, metade cabrito
Olhem no olho do ciclope
o gigante de um olho só
Mais adiante vejam a píton
a maior cobra do mundo
dançando com a mulher serpente
Cuidado ao passarem pela próxima jaula
o pigmeu canibal ainda não foi alimentado
Vejam o húngaro engolidor de espadas
e o faquir indiano
Vejam a mulher barbada
e a incrível monga, a mulher gorila
Na próxima jaula, olhem o homem elefante
e o hermafrodita de duas cabeças
Cuidado!! Muito cuidado ao se aproximarem
das próximas jaulas!!!
Deixamos o melhor para o final

Vejam o estripador
que estrangulou mais de cem mulheres em Londres
O menino assassino, que com apenas 16 anos
já matou mais de 60 pessoas, entre elas, a própria mãe
Vejam o senhor Poly, o bondoso velhinho
que só estupra crianças com até 6 anos de idade
suas fotos fazem o maior sucesso na internet
Na jaula ao lado está o Pedrão, o maior traficante de Crack
da América Latina.
se olharem bem ao fundo
enxergarão milhares de chupetas penduradas
cada uma delas representa uma criança
violentada pelas drogas
Mais adiante está o maior matador de focas do ártico
graças a ele não há mais focas no mundo
ao seu lado está o senhor Klips
responsável por devastar metade da floresta amazônica
em menos de 10 anos
Conheçam também o senhor Ali, o terrorista mais temido
de todos os tempos
So este ano ele detonou mais
de 600 bombas no ocidente.
Não!!!
Ele não é árabe, muito menos muçulmano
ele é o líder de um grupo de hackers terroristas
Ninguém sabe onde ele está
Vejam os mutilados das novas guerras do mundo
vejam quantos pernetas
é uma pena que eles
não possam aplaudir, se não, estariam aplaudindo vocês agora
Não se aproximem da próxima jaula!!!!
pois estes são muito perigosos
são os responsáveis pela proliferação
do HIV em todo o mundo
são de uma espécie de macacos, conhecidos como Cercocebus atys
foram eles que geraram esta doença maldita
infectando dezenas de tribos africanas
bem, é melhor morrer infectado por um vírus do que morrer de fome, não acham?
Afinal, a superpopulação do mundo deve ser controlada
“Vírus não se cria em laboratório!! É um castigo de Deus!!”
Bem senhores, espero que tenham gostado do espetáculo
ficaremos só mais algumas semanas, mas voltaremos na próxima temporada
trazendo muito mais novidades.
Para saírem, é só seguir o anão
esse ai, com chapéu dourado, espancando o homem elefante. 





Cavaleiro errante


Quem és tu cavaleiro?
Que ao longe vejo as longas patas
galopando junto ao vento
me mirando rente as atas
serias tu o anjo negro?
O visitante entardecido?
Que me rogas toda noite
por assim tê-lo vencido





Notas rubras


Em sangue escrevo as notas rubras
escondendo o verso tépido
escondido em vísceras escuras
enclausurada boca ao vento
uma tormenta se anuncia
dilacerando o verso meu
e no verbo adormecido
dilacero junto ao teu





O candelabro esquecido

Em cálice vejo as negras velas
como em um candelabro já esquecido
e nas teias que o rodeiam
um querubim entristecido




A mosca e a mortalha

Em puro mármore deitou-se suavemente
colocando suas mãos pálidas por entre a mortalha
se fez um radioso brilho exuberante em volta da rosa
luminosa e delicada, que escondida, brilhava mais
que a luz debaixo das rendas bordadas
o silêncio veio ao encontro da mosca
que o tempo todo á rodeava, e naquela intensa e clara luz
flutuava.
Porém lentamente se apagava
Ao apagar-se inteiramente, o radioso brilho ali presente
despediu-se.
E a mosca com a visão ofuscada, adentrou
por debaixo das rendas bordadas, pousando na rosa desabrochada
Desesperada, tentava encontrar aquela luz, que subitamente se dispersara
Convencida de assim tê-la perdido, se pôs a chorar
deixando cair uma lágrima quadriculada
E na sinfonia póstuma que ali se anunciava, a pequena mosca então sorriu, ao ver as chamas das velas enfileiradas
E assim, deitada ao perfume da bela rosa
ambas adormeceram iluminadas.




Luminosidade

Mergulhei meus olhos em uma intensa escuridão, e a profundidade de tal obscuridade, congelou meu coração, fazendo meus olhos pesarem.
E apesar de todos aqueles pesares, continuei mergulhando naquele lago escuro e profundo, que aos poucos ia se estreitando.
E conforme meu corpo passava pelas algas gelatinosas, mãos limpas iam me limpando, tirando crostas grossas de mim.
Naquele momento, senti uma leveza, que há muito não sentia, e como que por encanto, meus olhos abriram naquela escuridão.
Suspirei, ao ver a clara luz que vinha em minha direção.
E dos meus olhos brotaram gotas de sal, ao sentir esvair de mim, a solidão.
Segurei-me então ao brilho da forte luz, que gentilmente me conduzia, apresentando-me a um estado interessante.
Ao sair daquela obscuridade, pude ver a luz que brilhava naquela intensa claridade. Era teu sorriso, que depois de tanto tempo, tinha voltado á sorrir, na luminosidade.






Noite


Cai a noite sem fim, manto negro estrelado
Sem pressa, o que despreza, lugar inócuo e gelado
A sombra por traz da morte, se faz viva na terra escura, e os olhos, o que veem?
Além de trevas sangrentas, tempestades violentas, pesadelos pesados.
 E como seguir adiante?
Cegar o céu sem fim? Buscando as estrelas brilhantes? E como seguir?
Se o fardo acusa a corcunda dos imperfeitos.
Vem noite, sopra o vento mais frio, escurece e gela o que já se foi, e se nada restou, escurece ainda mais.
 Sem pressa, o que despreza, sem luz, o que não produz, sereneis lentamente, vagueis pelas encruzilhadas, vigia com teus olhos noturnos, a madrugada.
Segue noite, a escuridão, com patas de um cavalo flamejante, de um fogo azul constante.
Corre noite, com as folhas mortas no chão, galopando junto ao vento, eleva-as ao crepúsculo
Segue o brilho sem brilho, segue o instinto indomável, carrega em tua ânsia, a alma dos desolados. Vai noite, segue o azul-marinho, ofusca com teus olhos negros, os diamantes cravejados, de um céu estrelado, porem incompleto, e quem sabe tu possas, completar a escuridão?
Vem noite negra, rasga o tempo sem pressa, alimenta os famintos, sugere tuas fases aos desacordados, que clamam por escuridão com os olhos encharcados.
Venha desejar, assim que o sol se por, após beijar o mar, venha noite, fazer o coração despertar, sem pressa de se apressar.
Sem olhos para ver, sem boca para falar, traga consigo o silêncio absoluto, faz da terra teu luto, faça suspender o ar noturno, involuntariamente, jogue no abismo, os corações doentes
Seja noite escura, como asas de um anjo negro, rasgando os céus como uma espada furiosa
Aço, pedra e fogo, consola a alma dos inquietos
Noite de infinito azul, transcende o âmbar dos corpos nus, rasteje entre as entranhas de toda a carne quente e trêmula, lance seus anzóis além da escuridão, faça cegar a vista sem perder a razão
Queime noite negra, a alma dos vigilantes, sonhadores constantes, impregnados de paixão
Sejas tu noite, a flecha lançada pelo arco, antes de ires embora, faz do sol, sombra, ofuscando a aurora, semeia com teus tentáculos, em terra branda, o grito de outrora
Vai noite, alucina os alucinados, destila teu veneno no sangue dos coitados, seja mortal para quem não se importa, julgue os culpados, faz esperar, quem tem pressa, apaga a luz dos iluminados
Mergulhe noite, como uma suave chuva, que corta as ruas como laminas de gelo, alimentando os anfíbios, congelando os casulos dos enfermos
Titubeia noite, vasculhando cada canto, saboreando as perversas notas, mostra a linguagem noturna para as almas mortas, ensina-os a sonhar, sem dormir
Cante noite, a canção proibida no ouvido dos surdos, faça cantar os mudos, e os cegos, faça-os dançar no teu chão estrelado, a dança das luas
Visite noite, as almas atormentadas, castigadas pela solidão, estenda a eles, tua mão, caia sobre o tempo como uma cortina aveludada, com teus cenários sombrios e tuas mascarás encantadas
Suspire noite, uma suave neblina, suspendendo no ar um aroma cítrico, embalando em teu berço os amantes, enamorados pela tua aérea negra
Rasteje noite, onde a luz se torna remanescente, deixe cair tuas estrelas cadentes, como lágrimas luminosas, beijando teu rosto carente
Veja noite, o olhar febril dos indigentes, que nas ruas perambulam, embriagados, tristes sonhos despedaçados, monólogos inacabados, dá a eles a esperança, de serem adotados
Corre noite, entre as arvores e os arbustos, refrigera a alma dos lobos, alimenta o vampiros, desperte a consciência dos loucos, seja noite, o fio na navalha dos culpados, corta-lhes a cara, mostre a verdade além do céu estrelado, seja noite preta, mas não te calas perante os malvados
Faça noite, adormecer os demônios, vista teu cavaleiro prateado, com armas de ouro e manto sagrado, faça despertar os alecrins, faça lacrimejar os telhados
Vai noite, alimenta o dragão faminto, segue escurecendo, crescendo, além do infinito.....









💙



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