Por mais quanto tempo você vai ficar vagando nesta mesma estação?
O black horse de ferro está passando
Soltando fumaça pelas ventas
Espalhando carvão pelos pulmões
Galopando em um trilho interminável
Nem a velocidade do som pode alcançá-lo
E você está aí, parado, lendo seu jornal da semana passada
Esperando que um milagre aconteça
Seu suco de laranja já secou dentro do copo
E nada mais resta além das lembranças amargas que ficaram
Nem mesmo um bom-bom de licor tiraria o amargor que ficou na sua linguá
Á sua frente há um túnel, onde as luzes piscam degradadamente
Como pequenos vagalumes em uma caverna profunda
Ouça o barulho dos trilhos que ressoam na sinfonia dos ferros
Veja de longe a faisca que salta aos olhos dos curiosos
Quem vem lá?
De onde vem?
São apenas forasteiros que passam pelas nossas vistas
Enquanto você está aí parado, eles passam
Fervilham como formigas em um formigueiro
Enfrentam a guerra de todos os dias
Batalhas perdidas, vitoriosas, solitárias, até mesmo batalhas covardes
A batalha de cada um
Ter pão para não morrer de fome
Ter fome para não morrer de pão
Ter, poder, ser
Então seja
Seja o que quiser
Mas não fique aí parado
Vendo o trem passar
Deixe esta estação descansar de seus passos circulares
Os passos que deu em volta de si mesmo
Não o levaram á lugar nenhum
Poderia ter dado duas voltas ao mundo
E conhecido lugares maravilhosos
Poderia ter conhecido muito mais gente interessante
Poderia ter deixado de envelhecer
Mais do que já envelheceu
Não desista, ainda há tempo
Ouça o grunhir dos trilhos
O black horse de ferro está passando
Na sua estação
Não perca esse trem
Jogue fora esse jornal velho e esse copo vazio
É só esticar o braço
E ele irá parar pra você
Tire o nó de sua gravata
Ou seu salto alto
Respire fundo
E boa viagem
Crónicas pesadas para o mundo moderno!
Alexsandro Ribeiro.
Raul Seixas 🎶🇧🇷
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