Translate

domingo, 1 de março de 2020

Uma Canção para Kiev 💙🎵✒📃





Musical 🎼


Uma Canção para Kiev



Sofia olhava pela janela enquanto uma gigantesca nuvem cinza cobria os céus de Kiev.
Com as mãos grudadas na vidraça a menina se apoiava em uma cadeira para ver as pessoas correndo nas ruas.
Sofia não sentiu medo, mas chorou ao ver o desespero daquelas pessoas.
Pessoas que ela só conhecera através da janela de seu quarto, quando pintava suas bonecas e decorava suas pêssankas.
Sofia Kotoróvitch ficou muda aos cinco anos de idade após presenciar a morte da mãe, que morrera por um aneurisma.
Uma morte fulminante que encerrou a carreira de uma das mais promissoras bailarinas do ballet de Taras Svencenko.
Traumatizada com a tragédia, Sofia nunca mais falou.
O pai, um brilhante pianista da orquestra filarmônica de Kiev, também perdera o interesse pela musica, e abandonara o piano.
Ambos dividiam a mesma dor e viviam no silêncio de suas lágrimas.
Mas naquele dia tudo iria mudar.
Sofia, a menina que não falava á sete anos, agora iria cantar...


Vladimir Kotoróvitch ainda estava extasiado com o noticiário da televisão, que dizia que a usina energética de Chernobyl havia explodido, contaminando toda Ucrânia.
Der repente, um susto, algo extraordinário aconteceu.
Transtornado, deixou cair a xícara de café ao ouvir a voz de sua filha.

- Sofia? Perguntou ele, emocionado.

- Sim, sou eu papai!! Respondeu a menina com os olhos brilhantes

- Mas como pode? O que houve? Por deus!! Só pode ser um milagre!!!

- Preciso de uma caneta e de um bloco de papel!! Disse Sofia

- Mas porque isso agora?

- Preciso escrever uma música, papai!!!

- Mas temos de sair daqui! A cidade está sendo evacuada.
Aconteceu uma coisa horrível.
Precisamos ir embora desta casa, filha!!

- Eu sei o que houve, mas não se preocupe papai, não vai acontecer nada de ruim.
Mamãe está a olhar por nós.
Eu só preciso escrever esta musica, e tudo ficará bem.
O senhor vai me ajudar, vai compor a melodia!!

-Mas filha, eu não toco este piano já faz sete anos.
Nunca mais me aproximei deste piano!

- Pois agora, o senhor vai tocar este piano novamente papai!!
Toque Tchaikovskiy!
Eram as músicas que o senhor mais gostava de tocar, não?
Toque o teu piano, papai, toque o teu piano enquanto eu procuro esta canção.
Ela deve estar escondida em algum lugar desta cidade.
Vou sair para procura - lá, enquanto o senhor se encarrega de compor a melodia.

- Mas Sofia, tu não podes sair assim! Nunca saíste sozinha antes.
Não conheces nada além das ruas que são visíveis da tua janela.
Isto não está certo!!! Por deus! O que está acontecendo?

- Não se preocupe comigo papai! Não há o que temer.
Estarei bem, lá fora.
Só preciso encontrar esta canção.
Toque papai, apenas toque seu piano.


Vladimir foi tomado por uma força misteriosa ao ver Sofia saindo pela porta.
Seus olhos lacrimejaram de alegria.
Naquele momento, Vladimir Kotoróvitch voltou a tocar.
Uma paz se fez em seu espírito, e os gritos da rua foram silenciados pela harmonia de seu piano.

Enquanto Vladimir tocava incessantemente, procurando encontrar a melodia perfeita, Sofia ia em busca de sua musica.
Tudo o que ela queria era encontrar sua canção, encontrar, uma canção para Kiev.


Em busca de uma canção ❤🎵



Ao ver o desespero de seus vizinhos, Sofia tenta acalmá-los.


Porque correr? Porque correr?
Deixem as crianças dormirem!
O céu já está escuro na
escuridão do dia
Cegam-se os olhos e
calam-se os lábios
com o silêncio dessa escuridão
Porque correr? Porque correr?
Deixem as crianças dormirem!
Das nuvens caem gotas de grafite
e o arco-íres não mais existe
nos céus de Kiev
Porque chorar? Porque chorar?
Deixem as crianças dormirem
Pois só dormindo poderão sonhar!



Sofia se perde no meio da multidão, e não consegue entender porque estão todos apavorados. Uns correm para todos os lados, outros se trancam em suas casas.
Eis que então, um estranho se aproxima de Sofia.


- Deixe que corram, menina!!
Essa gente ainda não sabe o que vai acontecer!
O aviso veio muito tarde, se assim posso dizer.

- Quem é o senhor? Não o conheço!!!

- Permita-me que eu me apresente, senhorita.
Meu nome é Alexander Tchekhov.
Talvez nunca tenha me notado, mas eu sempre estive por aqui.
Vivo nas ruas.
Todos me conhecem, me dão comida e agasalhos.
Me chamam de velho russo, mas também sou conhecido como o velho de Samara!

- Estranho nunca ter notado o senhor.
Não lembro de ter visto seu rosto da minha janela.
Meu nome é So.........

- Sofia!!
Seu nome é Sofia, sim eu sei!! Seu pai é pianista!

- O senhor conhece meu pai?

- Sim, o senhor Vladimir sempre foi muito gentil comigo.
Este paletó que estou usando foi ele quem me deu!

- E como o senhor sabe meu nome?

Ah! Sim! É por causa dos Perohês! ( Pastéis cozidos recheados com batata e requeijão)
As vezes eu vendo Perohê para a senhora Nathasha.
Ela me paga um bom dinheiro por este serviço.
Seu pai disse que a senhorita é louca por Perohês.
Ele sempre diz: Sofia adora os Perohês da senhora Nathasha.
E sem modéstia, são os melhores de Kiev!

- Melhor que o Perohê da senhora Nathasha, só o Holubtsi ( Charutos de repolho) da senhora Nathasha.
Sou louca pelos dois!
Não entendo porque estão todos indo embora?

- É por causa do acidente de Chernobyl que ocorreu há cinco dias!

- Eu sei, eu vi na televisão, só não entendo porque todo esse desespero, tudo vai ficar bem, é só ter um pouco de calma.

- As pessoas estão com medo Sofia!
Dizem que esta nuvem cinza já chegou lá na Irlanda.
Todos estão assustados.

- Tudo vai acabar bem, velho de Samara!
Basta eu encontrar o que estou procurando.

- O que procuras aqui não vais encontrar!!

- O que? Como o senhor sabe?

- Tens que ir para o norte, lá encontrará o que está procurando!!


Der repente, uma forte chuva começa.
Todos se desesperam ao verem os pingos fluorescentes caindo do céu.
Muitos voltam para suas casas, apavorados.
Sofia e o velho de Samara se protegem debaixo de uma marquise.


- Veja que chuva brilhante, Sofia!!
Parecem cristais azuis dançando no céu!
Não Sofia!! Não saia nessa chuva!
Pode ser perigoso!!!


Sofia então abre os braços e começa a dançar na chuva colorida.


Lágrimas azuis
dançam nos céus
de Kiev
Gotas cintilantes
caem do céu
Dançam, dançam, dançam
Na imensidão do azul
Nuvens radioativas
dançam nos céus
de Kiev
Gotas coloridas
caem do céu
Dançam, dançam, dançam
Na imensidão do azul
Dançam, dançam, dançam
Na escuridão
Dançam, dançam, dançam
Na imensidão
Dançam, dançam, dançam
Na escuridão
Dançam, dançam, dançam
Na imensidão


- Esta chuva não me fará mal algum, velho de Samara!
São só gotas brilhantes caindo do céu!
Veja! Já está parando.
Não há o que temer!
Me diga, velho, como seguir em direção ao norte?

- Você precisa de uma bússola menina Sofia!

- Mas como encontrarei uma?

- Yaroslav!!
Eu e ele lutamos juntos na segunda guerra.
Ele tinha a mania de colecionar bússolas!!!

- Mas aonde encontro este seu amigo?

- Santa Sofia!!!

- Como? O que o senhor disse?

- Na catedral de Santa Sofia!!!!!!
É lá que encontrarás Yaroslav.
Ele agora é padre.
A última vez que o vi, foi há uns cinco anos atrás.
Aquele velho soldado está melhor do que eu.
Vá até a catedral, e diga que conhece o velho de Samara.
Ele vai ajudá-la.
Devo lhe dizer que aquele velho padre é meio maluco.
Não de muita importância para o que ele diz.
Yaroslav tem a mania de prever o futuro.

-E como chegarei até a catedral?

- Veja Sofia!!
 A chuva deixou uma linha luminosa no chão!
Alguma coisa me diz que se seguires esta linha, chegará até a catedral!

- Como no mágico de OZ?

- Sim Sofia, como no mágico de OZ!
Só que ao invés de tijolos amarelos, você vai pisar em Césio 137!!

Césio o que?

- Esqueça menina!! Vá buscar sua bússola.
Lembre-se, vá para o norte.
Só lá encontrará o que procura, e não se esqueça de mandar lembranças minhas para Yaroslav. Diga aquele velho maluco que ele está me devendo uma garrafa de Vodka!
Siga seu coração Sofia, siga seu coração, e que deus a abençoe menina.



O velho de Samara se despede de Sofia, enquanto ela segue pela linha luminosa.


Siga seu coração menina
Ouça sua voz
Ouça a voz que vem de dentro
de seu peito
Transforme as lágrimas
dessas pessoas em estrelas
brilhantes
De cada choro faça surgir um sorriso
De cada lágrima faça surgir uma estrela
Siga seu coração menina
Ouça sua voz
Ouça a voz que vem de dentro
de seu peito
Siga para o norte pequena menina
pois só lá encontrará sua canção
Siga em frente pequena Sofia
Ouça a voz de seu coração


Sofia segue pelas ruas de Kiev, e estranha o silêncio que faz na cidade.
Todos estão trancados em suas casas, com medo da gigantesca nuvem cinza que cobre os céus como uma cortina escura.

Ao passar pelo monumento de Olga, a bela, Sofia se emociona.


Santa Olga, Helena, proteja a cidade
com seu manto dourado
Afasta esta cortina escura
com suas mãos santas
beijadas em Constantinopla
Faça soprar o vento
nessas cortinas de medo
Olga bela, Helena
Amada mãe de Kiev
Faça florir as ruas
com seu aroma mais doce
Faça cair dos céus
a água mais límpida
Faça o sol iluminar
como um olhar de esperança
que alimenta um coração aflito
Que nada de mal aconteça
Olga bela, Helena
Amada mãe de Kiev
Que nada de mal nos aconteça



Sofia continua a andar pelas ruas da cidade seguindo a linha luminosa até chegar na praça de Bogdam Hmel'nicij. A menina então sorri ao ver a catedral de Santa Sofia.

Com o coração disparado de alegria, Sofia corre até a entrada da catedral.
Ao entrar, Yaroslav se assusta com a figura que surge á sua frente.
O corpo de Sofia está coberto por uma luz radiosa.
Yaroslav, completamente hipnotizado pela cena que presencia, entra em estado de trance, e começa a delirar.
Ele então se ajoelha diante daquela imagem iluminada, enquanto Sofia se aproxima lentamente.....


-Santa Sofia!! Santa Sofia!! Ouvistes minhas preces! Oh! Querida mãe! Santa Sofia!

-Senhor Yaroslav? Pergunta Sofia ao se aproximar do padre.

-Por Deus! É uma menina, e chamou-me pelo meu nome!! Que milagre divino!

- Não sou um milagre padre, sou apenas uma menina!

- Mas e esta luz azul? Estas brilhando mais que as estrelas!

- É da chuva! Da chuva luminosa

- Não entendo, a cidade está vazia.
O que fazes aqui sozinha, menina?

- Vim encontrar o senhor, padre.
O velho de Samara disse que o senhor me ajudaria.
Meu nome é Sofia.
Eu moro próximo ao rio Dniéper.
Minha casa fica em frente ao parque Dneprovskij.
Tenho que ir para o norte.
O velho de Samara disse que o senhor colecionava bússolas, por isso vim pedir-lhe ajuda!

- Sim, entendo! Mas o que vais fazer no norte? O que tem lá?

- É isso que eu preciso saber! Preciso ir até lá e encontrar o que estou procurando!!

- Então vieste ao lugar certo Sofia!
Vou ajuda - lá!! Venha comigo!!

- Esta catedral é muito linda, é o lugar mais lindo que eu já vi em toda minha vida!

- A catedral de Santa Sofia é a menina dos olhos de Kiev, pequenina.
Saibas que muitos reis foram coroados aqui!
Chegamos!! Entre!!

- Que salão é este?

- Aqui é o museu, é aqui que guardo minhas relíquias!!


Yaroslav pega uma pequena chave e abre uma caixa de madeira.

-Ah! Quanto tempo eu não via meu tesouro!
Veja Sofia, tem mais de cem bússolas aqui!!
São raríssimas, tem de todos os lugares do mundo.

- Estas douradas são de ouro? Pergunta Sofia

- Sim!! Ouro maciço.
Cada uma delas conta uma estória, cada uma representa um momento da minha vida.

- Quando o senhor e o velho de Samara eram soldados?

- Sim! Claro, o velho de Samara me ajudou a encontrar muitas delas!
Deixe-me ver,. Qual vou lhe dar?
Não!! Vais escolher uma!
Pegue Sofia, escolha a que você quiser! Será um presente!


Sofia fecha os olhos e escolhe uma das bússolas.


-É esta!! Vou ficar com esta!!

Ao abrir as mãos, Sofia revela a bússola escolhida.

- Ela está toda riscada! Que desenho é este senhor Yaroslav?

- É um símbolo! Um símbolo nazista, Sofia!!

- Porque o senhor está chorando?

- Acho que não fizestes uma boa escolha.
Esta bússola traz más recordações.
Foi na segunda guerra, eu há encontrei no barranco de baba.
Aconteceu algo terrível lá.
Aquele lugar é uma ferida aberta em Kiev!

- O que aconteceu lá?

- Os alemães invadiram nossa cidade, foi terrível, muitas pessoas morreram, foram tantos mortos! Meu deus!! Nós chegamos tarde demais, chegamos muito tarde!!

- Não chore padre, esta guerra já acabou há muito tempo!

- Não Sofia!! Muitas guerras ainda estão por vir, eu posso sentir em meu coração.
Ao longe eu vejo guerras acontecendo no mundo todo.
As vezes eu vejo coisas, Sofia, coisas que eu não gostaria de ver!

- O velho de Samara disse que o senhor vê o futuro.
O senhor não vê nada de bom?

- São tão poucas coisas boas que vejo!
Nós seremos livres.
A união soviética irá se dissipar.
A Ucrânia será independente.
Kiev voltará a brilhar.
Talvez esta seja a única coisa boa que eu veja.
Muitas guerras virão.
Eu vejo a Geórgia chorando.
Vejo nossos irmão brigando entre si.
Vejo pessoas inocentes morrendo.
É só o que vejo Sofia.
Vejo o homem sucumbido pelo poder.
Enquanto as guerras existirem, não haverá paz no mundo, não haverá esperança.
E se não bastasse estas visões aterrorizantes, agora esta nuvem cinza cobrindo nossa cidade. Eu vejo coisas terríveis acontecendo.
Haverá muito sofrimento, muito sofrimento!

- O que o senhor vê padre?

- Eu vejo as pessoas gritando, mas não consigo ouvir seus gritos.
É como se estivessem sem voz.
Estão todos chorando, todos chorando!
E eu não posso fazer nada!
Que santa Sofia nos proteja!
Que Deus seja misericordioso!!

- Não chore padre! Tudo ficará bem!
Quando eu encontrar o que estou procurando, ficará tudo bem!!
As pessoas estão com medo, mas não há o que temer.
Quando eu achar o que estou procurando não haverá mais medo!
Agora preciso ir, tenho que ir para o norte.
Esta bússola me levará até lá!

- Vá criança.
É só seguires esta flecha e chegará até o norte.
Vá pequena Sofia, vá buscar sua canção!!

- Eu há encontrarei senhor, Yaroslav?

- O que diz seu coração?

- Meu coração diz que sim!

- Então encontrarás!Vá pequenina, e que santa Sofia ilumine seu caminho!




Enquanto Sofia corre pelo grande corredor, Yaroslav faz sua prece.


Santa, santa Sofia
Protegei esta menina
Tu, santa mãe
que chorastes pelas
tuas três filhas
Tu, que reverenciastes
Cristo até os últimos
dias de tua vida
E mesmo com a dor
em vosso peito
Não abandonastes
tuas doutrinas
Santa, santa Sofia
Ilumine os passos
dessa menina
Protegei-nos dessa
nuvem cinza que ofusca
a luz em nossos corações
Ilumine-nos com o brilho
de tua fé, alimentando
nossos espíritos com
a clareza de tua luz


Ao deixar a catedral, Sofia nota um pequeno fecho de luz saindo de dentro da bússola, indo em direção ao céu, indicando a direção que ela deve seguir.

Sofia segue pelas ruas seguindo o fecho luminoso.
Após uma longa caminhada, ela para um pouco para descansar.
Exausta, senta-se no cordão da calçada, der repente o silêncio é quebrado por um murmurinho.
Sofia então fita os olhos na extensão da rua e parece não acreditar no que vê.
Um homem vestido com roupas engraçadas e com uma cabeça de ovo, xingando um violoncelo, se aproxima.


- Vá ensaiar!! E só me volte aqui quando estiver afinado! Hora, hora!! O que temos aqui? Uma garotinha! Qual o seu nome menina?

- Sofia!!

- Hora, hora! Porque essa cara de espanto?

- É a sua cabeça! O senhor tem uma cabeça de ovo, e aquele violoncelo tem pernas e braços!!

- Não se assuste, Sofia.
Meu nome é Nikolai Lysenko, mas pode me chamar de senhor ovo.
Eu vivo no reino encantado da musica!

- Reino da musica?

- Sim, no reino da musica! Vocês humanos não conhecem, pois estão sempre assoberbados. Nunca prestam atenção nas maravilhas que existem em sua volta.
Estão sempre apressados.

-Mas como estou vendo o senhor agora?

- Hora, hora, menina, você faz muitas perguntas! Depois que esta nuvem cinza cobriu a cidade, nós ficamos mais visíveis.
Tem alguma coisa estranha nesta nuvem.
Ainda bem que as pessoas estão trancadas em suas casas, se não ia ser um deus nos acuda! E você? Porque não está em sua casa?

- Preciso ir para o norte, estou procurando uma canção!

- Uma canção? Hora, hora, menina, porque não disse antes, eu posso ajuda - lá.
Sou maestro, posso ajudar encontrar sua musica!

-Mas o velho de Samara disse que eu só á encontraria no norte!

-No norte? Não!! Lá é muito perigoso.
Esta nuvem escura veio de lá.
É lá que fica a usina de Chernobyl.
A usina que foi pelos ares.
Não há mais ninguém na cidade, estão todos apavorados!

-Eu sei senhor ovo, só que meu coração me diz que eu devo ir até lá.
Estou caminhado há horas, acho que o norte fica muito longe, se ao menos tivesse um meio de chegar mais rápido. Estou tão cansada!

-Eu posso ajuda - lá Sofia!! Claro que posso.
É só eu pedir ao pássaro de ouro, e ele á levará até o norte!

-Pássaro de ouro?

-Sim, Sofia, o pássaro de ouro!!
 Ele também vive no reino da musica.
Para encontrá-lo, precisamos ir até a porta dourada.
Mas antes precisas descansar um pouco.
Venha comigo, vamos até o vale dos violinos.
Assim poderá descansar e comer alguns Perohês.

-Perohês? Eu adoro Perohês!!

-Então venha comigo, Sofia!!


Senhor ovo tira uma batuta do bolso e desenha uma porta imaginaria no ar.
Ao abrir a porta, Sofia se encanta com o vale dos violinos.


- Que lugar lindo, senhor ovo!!
Nunca pensei que pudesse existir um lugar tão lindo assim!

-O reino da musica é realmente encantador.
Em cada canto há uma surpresa!

-Estes violinos estão vivos!! Como podem ter vida?

-No reino da musica, todos os instrumentos musicais tem vida, Sofia!
Veja como ficaram alegres com sua presença.
Nunca estiveram tão bem afinados!


Os violinos se aproximam de Sofia e começam a tocar e dançar em sua volta.
Também se aproximam violoncelos e pianos de calda, e também os clarinetes.
Uma alegre sinfonia começa.
Senhor ovo canta uma doce canção, e rege os instrumentos, enquanto Sofia dança com as árvores em forma de violinos.



Dance, dance Sofia
Nesta terra
Em cada canto
Há um toque de magia
Dance, dance
Pequenina
Mergulhe
Nesta doce
Fantasia
Dance, dance
Pequena Sofia
Dance esta alegre
Sinfonia
Se para norte você quer ir
Para o norte você irá
Basta irmos á porta dourada
E o pássaro de ouro á levará
Basta irmos á Zoloti Vorota
E no norte você chegará!
Dance com os violinos
E com os rouxinóis
Dance, dance
Pequenina
Junto com os girassóis


Depois de dançar, eles entram em uma árvore em forma de violoncelo.
Sofia se encanta com os instrumentos, que parecem gente conversando e comendo Perohês.


-Venha, venha Sofia! Diz senhor ovo com um largo sorriso no rosto.

- Que lugar lindo, senhor ovo!Nunca pensei que pudesse existir uma casa de Perohês dendro de um violoncelo!
Hummm!! Que cheirinho delicioso!!

-Aqui servem o melhor Perohê do reino da musica! Sirva-se a vontade, Sofia.


Um pianinho traz os Perohês para Sofia, que começa a comê-los até lamber os beiços.

-Nossa, senhor ovo, como o senhor está sendo gentil comigo!
Muito obrigada! Me sinto até mais disposta para seguir minha viagem.

-Hora, hora, menina, não precisa agradecer.


Senhor ovo fica enrubescido, um pequeno violino então puxa Sofia pelo vestido e lhe cochicha no ouvido.


-Ele quer que você pinte a cara dele para o festival de pêssankas!

-Hora, hora! Seu violininho falador! Não de importância para o que ele diz, Sofia.

-Mas senhor ovo, porque não me disse antes? É claro que eu posso pintar sua cara.
Eu pinto ovos muito bem! Aprendi a pintar pêssankas com meu avô.
Será um prazer poder ajudá-lo!

-Eu iria pedir mais tarde, mas este violino intrometido estragou tudo.
Hora, hora, não se pode mais confiar nestes instrumentos musicais!

-Não se preocupe com isso, senhor ovo, mas me diga, quais as cores que o senhor mais gosta?

-Vermelho e dourado!! Ah! Eu adoro estas cores! Você acha

que eu vou ficar bonito, Sofia?

-Claro que sim, vou desenhar uma borboleta dourada em cima da sua cabeça.

-Uma borboleta! Você sabe desenhar borboletas.
Eu também adoro borboletas!!

-Então vamos começar agora mesmo, senhor ovo!

-Agora? Mas aqui?

-Porque não? Quando é o festival?

-Amanha!

-Então não vamos perder tempo!! Tragam-me as tintas e um pincel!


Os violinos buscam as tintas e o pincel para Sofia.
Todos se reúnem em volta da mesa de senhor ovo para assistirem-no sendo pintado.
Sofia desenha a borboleta como se estivesse regendo uma orquestra.
Seus movimentos rápidos e sua destreza para com a pintura, impressiona os instrumentos musicais.

Eles observam atentamente, enquanto Sofia pincela a cara de senhor ovo.
Eis que então, todos ficam espantados diante dele.
Nervoso, pede logo um espelho para puder se ver.

-Dei-me logo este espelho, seu violino desafinado!! Diz senhor ovo, ansioso para se olhar.

- Ficou simplesmente maravilhoso, Sofia! Você é uma artista, menina!!

-Tenho certeza que o senhor ganhará este concurso, senhor ovo!!
Será a pêssanka mais bonita do festival!


Senhor ovo deixa a casa de Perohês, radiante, e se exibe pelas ruas com sua batuta na mão. Um grupo de tambores segue rufando á sua frente lhe abrindo caminho, como se estivessem abrindo um desfile.
Todos saem nas ruas para verem a cara pintada do senhor ovo.
Ele marcha de mãos dadas com Sofia, cantando uma alegre canção.
Está levando-a á porta dourada, para que possa continuar sua viagem.



Vamos, vamos, Sofia
O pássaro de ouro lhe espera
Para voar com suas asas
Encantando a primavera
Sua canção
Você deve encontrar
Mas preste atenção no que vou lhe falar
Muito cuidado lá no norte
Um pouco de sorte
Você vai precisar
Cuidado com os homens amarelos
Pois eles não deixarão você entrar
As pessoas estão chorando
Esperando sua musica
Por tanto seja astuta
Não se deixe enganar
Encontre a princesa que dorme
E sua canção
Você vai encontrar
Mas para encontrar a princesa
Muito mais sorte você vai precisar
Ela está no castelo sombrio
Esperando você chegar
Pois somente com seu beijo
Ela pode despertar
Vá e leve está batuta
Menina seja esperta
Use a cuca
E não se deixe enganar
O pássaro de ouro lhe espera
Agora você pode
voar


Senhor ovo leva Sofia até a entrada da porta dourada.
Ele então pede para que os violinos e os violoncelos comecem a tocar uma musica.
A melodia faz com que uma porta de luz se abra.
Ao abrir, um imenso pássaro de ouro surgi envolto a luzes douradas e vermelhas.
Sofia se encanta com o lindo pássaro que a reverencia com a cabeça.


-Que lindo, senhor ovo! Que pássaro lindo!

-Eis o pássaro de ouro que á levará até o norte, Sofia! É um pássaro mágico!

-Mágico?

-Sim, como tudo que existe no reino da musica.
Ele é um ser encantado, seu canto já inspirou muitos músicos, entre eles, Tchaikovskiy!

-Tchaikovskiy?

-O pássaro de ouro habita a sensibilidade dos músicos, Sofia, mas somente os grandes gênios podem ouvir seu canto.
Aqueles que buscam a musica no esplendor de sua alma.

-Será que ele cantará para mim, senhor ovo?

-Quem sabe? Quando encontrar sua canção, o pássaro de ouro cantará pra você.
Agora tens que ir, mas se quiseres, podes ficar aqui.
Ainda há tempo de desistir, pois é muito perigoso lá no norte.
Muitos perigos você vai encontrar.

-Eu sei disso, senhor ovo, meu coração está apertado.
Estou com medo de ir até lá, mas é preciso, alguma coisa me diz que eu preciso ir.

-Então faça boa viagem menina! E não se esqueça de usar a cuca, quero dizer!!! A batuta. Ela também é mágica, mas só poderá usá-la uma única vez.

-Só uma vez, senhor ovo?

-Sim! Lembres-se, somente no castelo sombrio encontrará a princesa que dorme, por isso, tenha muito cuidado.
Vá pequenina, vá buscar sua canção.

-Adeus senhor ovo! Eu o verei novamente algum dia?

-Hora, hora, menina, assim, vais me fazer chorar,.
Sempre que quiser me encontrar, ouça a musica que toca em seu coração.
Eu sempre estarei lá!


Sofia abraça senhor ovo com um abraço terno e apertado.
Suas lágrimas deslizam com gotas de orvalho.
Todos se despedem de Sofia.
Os violinos, os violoncelos, os pianos, os clarinetes, todos lhe dão adeus.

-Vá, vá pequenina! Voe pelos céus de Kiev.
Voe Sofia, voe! Diz senhor ovo enxugando suas lágrimas.

Sofia então sobe no pássaro de ouro que abre suas asas e lança-se aos céus como uma estrela dourada.
Os instrumentos musicais fazem um circulo em volta de senhor ovo e começam tocar uma doce sinfonia.
Senhor ovo então senta-se ao piano e começa a cantar.



Voe pequenina
Com asas de um anjo dourado
Voe princesa Sofia
Além do céu estrelado
Uma lágrima em Kiev surgirá
Quando encontrar sua canção
Em seu rosto um sorriso nascerá
Vindo de seu coração
Voe pássaro de ouro
Com asas de um anjo bom
Plane suavemente
Esplendoroso condor
Voe pequenina
Com asas de um anjo dourado
Voe princesa Sofia
Além do céu estrelado


O pássaro de ouro corta os céus de Kiev como um relâmpago.
Ele está indo em direção ao norte, voando por debaixo das nuvens.
Sofia se encanta com sua cidade vista de cima.
Seu coração dispara de emoção, der repente, o pássaro de ouro começa a descer, pairando suavemente no ar.
Sofia então fita seus olhos e enxerga uma cidade sombria e deserta.
Uma chuva radioativa começa.
O pássaro de ouro então leva Sofia para debaixo de uma árvore, que começa a tossir,.
Sofia se assusta, olha para todos os lados, mas não enxerga ninguém.
O pássaro de ouro então aponta para a árvore com a cabeça.


-Olá, meu nome é Sofia, é a senhora que está tossindo? Pergunta a menina para a árvore.

-Depois que esta nuvem cinza chegou, minha saúde só piorou.
Eu sou a única árvore que sobrou neste vale.
As que haviam sobrevivido, morreram intoxicadas depois que construíram esta fabrica!

-Fabrica? Que fabrica?

-A fabrica energética que fica algumas léguas daqui, atravessando este portão.

-Quer dizer que não estamos mais em Kiev?

-Não menina, aqui já é Chernobyl!

-Então esta é a fabrica que explodiu?

-Sim! A maioria das pessoas já deixaram a cidade.
Só ficaram os homens amarelos.
Ninguém mais pode entrar ou sair!

-Os homens amarelos!
Senhor ovo me falou deles.
Então a fabrica é o castelo sombrio!
É lá que está a princesa que dorme!
O pássaro de ouro me trouxe ao lugar certo!
É aqui que encontrarei minha canção! Preciso continuar!

-Não menina! Estas louca! Se entrares ai, morrerás!
Os homens amarelos usam máscaras e roupas especiais!
Você não terá chance alguma se ir assim desprotegida.

-Mas e o pássaro de ouro? Ele pode me levar até a fabrica!

-O pássaro de ouro não pode mais seguir com você.
O reino da musica fica em Kiev.
Se levares o pássaro, ele morrerá.
Se isto acontecer, não haverá mais musica neste mundo!

-Mas como farei para seguir?

-Eu acho que posso ajudá-la, Sofia!

-Faria isto por mim?

-Você é só uma garotinha, se fosse um adulto talvez não ajudaria!

-Hora, porque?

-Os adultos não respeitam mais a natureza.
Eles destroem as florestas, contaminam as águas, matam os animais silvestres, e se não bastasse, matam-se uns aos outros.
Estão destruindo este planeta!

-É, a senhora tem razão, o homem não respeita mais a natureza, isto é tão triste.

-Não estou lhe dizendo Sofia? E se não bastasse tudo isso, constroem estas fabricas para contaminar nosso ar.
Estão se destruindo a si próprios e não estão se dando conta.

-Talvez eu possa mudar isso, senhora árvore, quando encontrar minha canção.
É só eu encontrar esta canção e tudo ficará bem!

-Você é tão pura Sofia, bem diferente dos humanos que conheci.
Tenho certeza que vai encontrar sua canção.
Agora deixe-me ajudá-la.
É só eu conseguir esticar minha raiz e usar um pouco de magia.

-Magia? Pergunta Sofia com olhos curiosos.

-Sim, Sofia, nós elementais também somos seres mágicos.
A magia está em toda a parte deste planeta.
Basta abrir os olhos que você á enxergará!


A árvore arranca uma de suas raízes com suas mãos em forma de galhos, e pega uma pequena porção de terra. Ela então fecha os olhos, der repente, gotas de orvalho começam escorrer de suas folhas, que ao gotejarem na raiz e na terra, formam uma bolha esverdeada.


-Eis aqui, Sofia, sua máscara de oxigênio! Diz a árvore após realizada a magia.

-Uma máscara de oxigênio! Parece um capacete de vidro! Nossa!! Nunca imaginei que as árvores poderiam realizar magias como esta.

-Basta você colocar esta bolha em sua cabeça e estará protegida, mas lembre-se, só a tire quando estiver em Kiev. Se tirares antes, poderá morrer!
Agora venha, vou colocá-la em você.

A árvore coloca a bolha na cabeça de Sofia.
Ao colocar o capacete, partículas de oxigênio surgem como mágica dentro dela.


-Agora você poderá respirar ar puro, Sofia!
Assim protegida, poderá continuar sua viagem!

-Ficou perfeita na minha cabeça, senhora árvore.
Estou me sentindo até melhor.
O ar já estava ficando pesado.
Muito obrigada por me ajudar.
Jamais esquecerei o que fez por mim!
Quando encontrar minha canção, voltarei aqui para cantar para senhora!

-Tenho certeza que encontrará sua canção, Sofia, tenho certeza que á encontrará.
Acho que está na hora de se despedir de seu amigo.
Ele precisa voltar para Kiev.
Este ar está muito pesado, é muito perigoso para ele.


Sofia se despede do pássaro de ouro, que está ofegante e sem cor.
Após abraçá-lo, ele se lança aos céus como um cometa dourado, e desaparece no horizonte.


-Ele não cantou para mim, senhora árvore.
O canto dele inspira os músicos.
Acho que não encontrarei minha canção.

-Não desanime agora, querida.
Quando encontrar sua canção, ele cantará para você.
Agora vá, e tenha muito cuidado neste caminho sombrio.
É muito perigoso, tenha muito cuidado Sofia, tenha muito cuidado!!


Sofia se despede da árvore dando-lhe um forte abraço e segui em direção ao portão de ferro. Enquanto Sofia segue pelo caminho sombrio, a árvore canta mais uma canção.



Não há luz no vale da morte
No vale da morte
Só há escuridão
Caminhe devagar
Pequena Sofia
Ouça o que diz seu coração
Não tenha pressa de chegar
Ao seu destino
Muitas pedras você
Vai encontrar pelo caminho
E em cada tropeço
Você vai levantar
É só acreditar, é só acreditar!
Não desanime no meio do caminho
Em todo jardim há um espinho
A nos espetar
Somente com a fé em nossos corações
É que podemos continuar
Basta acreditar, basta acreditar!



Sofia caminha com o coração apertado.
Em sua volta, os galhos das árvores se entrelaçam formando um túnel escuro e sombrio. Sofia se depara com um imenso portão de ferro com os dizeres, BIOHAZARD.
Ela força o portão e consegue passar por uma das fendas.
Uma fumaça escura sai do chão conforme ela pisa na terra acinzentada.
Sofia caminha devagar, sua visão fica um pouco ofuscada por causa da fumaça.
Eis que no meio da neblina, Sofia ouve uma voz.


- Não!! Não vá por esse caminho menina!!! É muito perigoso!

Sofia olha para todos lados, mas não vê ninguém.

-Aqui!!Aqui em baixo!! Estou aqui menina!

Sofia olha para baixo e se agacha em direção a voz e fica surpresa ao ver um pequeno soldadinho de chumbo todo derretido.

-O que fazes aqui pequenino? Pergunta Sofia.

-Os homens amarelos! Se for por este caminho, eles pegarão você!

-Preciso chegar até a fabrica, só lá encontrarei o que procuro!

-Você quer dizer o “castelo sombrio”. Diz o pequenino com uma cara de assustado.

-Sim! É para lá que estou indo. Você conhece o caminho?

-De onde acha que eu estou vindo? Olhe para mim! Estou todo derretido por causa daquela chuva ácida. Não há mais nada lá, somente os homens amarelos e aquele engenheiro louco.

-Engenheiro?

-O sujeito que construiu a fabrica.
Ele está louco, se trancafiou lá dentro e disse que não vai mais sair.
Os homens amarelos estão tentando tirá-lo de lá, mas ele não deixa ninguém entrar.

-Mas porque ele se trancou lá dentro?

-Ele está se sentindo culpado por ter construído a fabrica.
Muitas pessoas estão morrendo.
Ele disse que é tudo culpa dele.
Ele trancou todas as entradas, ninguém pode entrar.

-Mas eu preciso ir até lá! Você pode me ajudar soldadinho?

-É loucura! Os homens amarelos não deixarão você passar, e mesmo que consiga, como acha que vai conseguir entrar lá dentro?

-Você poderia me ajudar.
Se veio de lá, conhece bem o caminho.
Não se preocupe, eu carrego você no meu bolso, ficará protegido, a propósito, meu nome é Sofia, você ainda não me disse seu nome soldadinho.

-Meu nome é Nikolai Trusevich, e acho que você está cometendo um grande erro.
Aquela fabrica esconde um segredo obscuro.
Não é a toa que está acontecendo tudo isto.
Você não acha estranho estar falando com um soldadinho de chumbo?

-Depois que esta nuvem escura cobriu os céus de Kiev, muitas coisas estranhas estão acontecendo comigo.
Primeiro foi o velho de Samara, depois o padre Yaroslav, sem falar no senhor ovo.
Ele me mostrou o reino da musica, e o pássaro de ouro me trouxe até aqui, e se não bastasse, uma árvore me deu esta mascara de oxigênio.
Nada mais me surpreende.
Me diga Nikolai, o que está acontecendo? Que segredo este castelo sombrio, ou esta fabrica, esconde?

- Depois que aconteceu o acidente na fabrica, nossos mundos colidiram-se.
Acho que foi a radiação.
Alguma coisa aconteceu, pelo menos é o que dizem os guardiões.

-Guardiões?

- Eles guardam as fronteiras que separam nossos mundos.
Depois do acidente, estas fronteiras foram abertas.
Assim como o mundo da musica, existem outros mundos mágicos fazendo fronteira com seu mundo.
Apesar das portas estarem abertas, somente aqueles que não tem medo, podem ver estes mundos. É por isso que você nos vê, porque você não tem medo, Sofia.

-Mas e o castelo sombrio? O que tem lá?

-O castelo sombrio fica no mesmo local da fabrica construída em seu mundo.
Quando construíram a fabrica, o castelo já existia no meu mundo.
Tudo que acontece num lugar, acontece no outro.
O castelo e a fabrica estão ligados.
Vivíamos em paz, até Adramelech despertar de seu sono profundo.
No momento em que ele despertou, a fabrica explodiu no seu mundo, levando medo e desespero para todos nós.

-Mas quem é Adramelech?

-É o senhor da escuridão.
O mal que habita o meu mundo.
Ele foi aprisionado no calabouço do castelo, depois que selou um pacto com a princesa Aurora. Pobre princesa, entregou sua vida para que nosso mundo encontrasse a paz.

-Como ela morreu?

-Ela não está morta, está dormindo.
Ela dorme como um anjo, na torre do castelo.

-Espere ai, essa não é a estória da bela adormecida?
É apenas um conto de fadas, como pode isto ser verdade?

-Esta é a grande magia, Sofia.
O que perece ser apenas uma fantasia no seu mundo, no meu, se torna real.
Cada inspiração, cada sentimento, seja ele bom ou ruim, reflete no meu mundo.
Vocês que nos dão a vida.
Aurora e sua generosidade, assim como sua beleza, foi gerada pela inspiração de um grande gênio de seu mundo.

-Quem, Nikolai? Quem?

-Piotr Ilitch Tchaikovskiy!

-Tchaikovskiy?

-Sim, Tchaikovskiy deu vida á Aurora, e todo o universo que á envolve.
Já eu, fui criado por Hans Christian Andersen.
Sua inspiração me deu a vida.

-Eu sempre gostei de Tchaikovskiy.
Adoro ver meu pai tocando suas musicas ao piano.
Meu pai se tornou pianista por causa dele.
Tchaikosvskiy foi sua grande inspiração.
Mas Nikolai, não foi Charles Perrault que escreveu este conto?

-Sim, Perrault escreveu a bela adormecida, mas foi Tchaikovskiy que deu vida a ela através de sua musica.
Esta é a grande magia, Sofia.
Um bom sentimento, provoca outro bom sentimento, uma inspiração inspira a outra. Quando encontrar sua musica, você saberá.
Todo sentimento bom que tiver irá refletir em seu coração, basta acreditar.


Der repente, Nikolai sente uma estranha energia percorrer seu corpo de chumbo, e como num passe de mágicas, fica com uniforme todo vistoso, “novinho em folha.”


-Olhe para mim Sofia, não estou mais derretido.
Minhas cores voltaram, parece que recém saí da caixa de brinquedos.

Sofia olha radiante para Nikolai, escondendo um sorriso como se estivesse escondendo um segredo, logo o soldadinho percebe que Sofia realizara a magia.

-Foi você, não foi? Como posso agradecê-la?

-Um bom sentimento reflete outro bom sentimento.
Só desejei que você ficasse bem.

-Muito obrigado Sofia, estou tão feliz que me dá vontade de cantar uma canção.

-Então cante Nikolai, cante!



Sofia senta-se em uma pedra e abraça os joelhos, enquanto Nikolai se prepara pra o show. Rouxinóis azuis se aproximam e começam a voar em sua volta, ele então começa a cantar.



Um bom sentimento
Atrai outro bom sentimento
Desejar o bem para os outros
É trazer o bem para si mesmo
Quem faz o mal
Só atrai maldade
Quem diz mentiras
Se afasta da verdade
O amor está em todos nós
Desejar o bem faz bem
Fazer o bem
Não importa á quem
Simplesmente desejar
Uma coisa boa
Para uma pessoa
Porque guardar rancor no coração?
A vida é boa demais para se viver na escuridão
Venha! Venha Sofia!
Me ajude a cantar este refrão
Um bom sentimento
Atrai outro bom sentimento
Desejar o bem para os outros
É trazer o bem para si mesmo



Sofia e Nikolai dançam no caminho sombrio.
O soldadinho então ouve um barulho vindo da floresta e fica apreensivo.
Sofia se abaixa e espia por entre as árvores.
Ao fitar seus olhos em meio a neblina, enxerga um fecho amarelo passando por entre as árvores.




-Temos que sair daqui, Sofia!! Diz Nikolai, assustado.

-Quem são eles? Pergunta Sofia.

-São os homens amarelos.
Eles devem ter ouvido algum barulho.
Se encontrarem você, irão colocá-la dentro de um caminhão e a levarão embora.
Eles chegaram logo que e fabrica explodiu.
Cuidado Sofia!! Fique abaixada.
Se eles nos virem estamos perdidos.

-Eles também usam máscaras.
Estão vestidos dos pés á cabeça.
O que estão fazendo Nikolai?

-Estão medindo a radiação.
Aqueles aparelhos são medidores de radiação.
Está vendo aquele homem de branco?

-Sim, porque só ele esta vestido de branco?

-Aquele é o chefe deles.
Vê como ele está preocupado.
Ele balança a cabeça e caminha de um lado para o outro.
Ele disse que chegaram tarde demais, que Chernobyl está condenada.

-O que faremos agora Nikolai? Como iremos passar por eles?

-Só existe um meio, Sofia.

-E qual?

-Temos que ir para fabrica pelo meu mundo!

-E como faremos isso?

-Temos que encontrar uma passagem!

-Uma passagem?

-Sim, uma passagem através das árvores.
Os guardiões usam as árvores como portais.

-E como encontraremos estes portais?

-Os guardiões marcam as árvores com um W.
Venha Sofia, me ajude á procurar uma das passagens.

-Tenha cuidado Nikolai, estão vindo mais homens amarelos.


Nikolai e Sofia entram na floresta escura e procuram o símbolo mágico, enquanto os homens amarelos vasculham a estrada.
O soldadinho de chumbo então aponta para uma das árvores.


-Ali, Sofia, veja!!! É um W! Encontramos uma das entradas! Venha! Temos de nos apressar. Eles estão vindo para cá, depressa Sofia! Vamos!

Nikolai e Sofia se aproximam da árvore, der repente ouvem um grito.

-Ali!! Estão ali! As vozes vieram daquela árvore! Vamos pegá-los! Diz um dos homens amarelos

-O que faremos agora Nikolai? Eles nos encontraram!

-Venha Sofia, não podemos mais perder tempo!


Nikolai assovia uma musica de Tchaikosvskiy.
Uma luz dourada então surge no centro da árvore formando uma entrada luminosa.
Os dois então atravessam o portal e desaparecem.
Os homens amarelos ficam espantados e questionam o acontecido.
Enquanto isso, Nikolai apresenta seu mundo para Sofia.


-Que lugar lindo Nikolai! Diz Sofia com o olhar radiante.- Parece mesmo um conto de fadas!

-Pois acredite Sofia, você vai encontrar muitos personagens de contos de fadas neste mundo, mas vou logo lhe dizendo, são muito tímidos na presença de humanos.

-Quer dizer que todos os personagens de contos de fadas estão aqui?

-Sim! A maioria estão aqui neste mundo! Seja bem vinda á terra dos contos, Sofia.



O soldadinho de chumbo pega Sofia pela mão e apresenta a terra dos contos, cantando uma alegre canção.



A terra dos contos lhe espera
Pequena Sofia
Para fazer você voar em suas asas
E mergulhar em sua fantasia
Há seres bons e seres ruins
Piratas, fadas e castelos
Há dragões e alecrins
Princesas, duendes e donzelas
Vivendo estórias sem fim
O pequeno polegar e o gigante
Brigando pela galinha dos ovos de ouro
O boneco de madeira que virou gente
O gato de botas e o ratinho inteligente
O sapo que virou príncipe
E o leão que ficou valente
A bruxa malvada
E sua maça envenenada
Venha! Venha! Pequena Sofia
A terra dos contos lhe espera
Para fazer você voar em sua asas
E mergulhar em sua fantasia


-Seu mundo é realmente muito bonito, Nikolai.
Todos os seres parecem ser muito felizes.

-É porque você está aqui, Sofia, por isso estão felizes.

-Eu também gostaria que as pessoas do meu mundo fossem felizes assim, por isso preciso encontrar minha canção. Quando encontrá-la, deixarei as pessoas do meu mundo mais felizes! Que nuvens escuras são aquelas Nikolai? Não consigo ver direito, tem alguma coisa lá, o que é?

-É o castelo sombrio!

-O castelo sombrio? Então é para lá que devemos ir! Preciso encontrar a princesa que dorme!

-Mas Sofia, nunca ninguém esteve naquela torre.
Adramelech não deixará ninguém chegar perto dela.

- O que ele é? Um demônio?

-Ele pode assumir a forma que quiser, é um ser da escuridão.
Ele quer transformar o mundo dos contos em um reino do mal.
Somente Aurora pode detê-lo, mas para isso, ela precisa despertar de seu sono.

-Hora, Nikolai, não é como no conto da bela adormecida?
Somente o beijo de um príncipe pode despertar a princesa, basta encontrarmos este príncipe.

-Aqui não é como na estória da bela adormecida, Sofia.
Aurora só irá despertar quando encontrar a fada lilás.

-A fada lilás? Mas ela também não aparece na estória?

-A fada lilás abençoou a princesa quando ela nasceu, e somente ela pode libertá-la desta maldição.

-E como encontraremos esta fada?

-Ela nunca mais apareceu, quando a princesa adormeceu, acreditávamos que ela viria, mas ela nunca mais voltou, ninguém mais á viu.

-Mas deve haver um meio de encontrá-la, Nikolai, uma fada não pode desaparecer assim. Não há ninguém que possa nos ajudar?

-O oráculo das fadas!

-Oráculo das fadas?

-Sim, ela pode nos ajudar, ela vive nas profundezas do lago, perto do castelo.
Dizem que depois que a princesa dormiu, ela nunca mais saiu de lá.
Ela e a fada lilás eram muito amigas.
Ela deve saber alguma coisa.

-Ela também é uma fada?

-Digamos que sim, uma fada sereia, se assim posso dizer.
Acho que ela pode nos ajudar, vamos encontrá-la, Sofia.

Der repente, Sofia ouve um barulho estranho vindo de traz das árvores e se depara com um par de antenas enormes.

-O que é isso, que criatura é essa? Grita Sofia, espantada.

-Não se preocupe, Sofia, é apenas um louva-deus.

-Um louva -deus? Mas eu nunca vi um louva-deus deste tamanho.

-Não precisa ter medo, ele é mansinho, não vai nos fazer mal!
Tive uma ideia, Sofia! Ele pode nos ajudar a chegar até o lago.
Vamos, é só montar nele.

-Mas como eu vou montar nesse bicho? Olha o tamanho dessas patas.

- Pegue umas folhas e dê para ele.
Viu, ele é bonzinho.
Agora quando ele se abaixar, é só subir em cima dele.
Isso Sofia.
Sofia! Espere por mim!

- Pule Nikolai! Pule logo! Vamos!


Nikolai salta, caindo no bolso de Sofia, depois de muito esforço ela consegue domar o louva-deus. Eles então partem em direção ao lago.
A criatura dá três saltos, e no terceiro se põem a voar.
Sofia se segura firme nas costas do louva-deus, que voa como um raio passando por entre as árvores, embrenhado-se na floresta.
Ao chegarem em campo aberto, Sofia avista as torres do castelo sombrio, e logo mais á baixo, uma ponte de ferro.


-Estamos perto Sofia! É só seguirmos esta ponte que chegaremos até o lago!
Ali! Estou vendo! Desça Sofia! Desça!

-Mas como faço ele parar?

-Puxe as antenas dele, e ele vai entender que chegamos.


Sofia puxa as antenas do louva-deus, que desce, planando suavemente com suas asas.
Ao chegarem em terra firme, Sofia e Nikolai se despedem do louva-deus, que gentilmente, os reverencia com a cabeça.
Sofia cata algumas folhas no chão e acaricia sua face.


-Muito obrigado por sua ajuda amiguinho.- Graças a você, chegamos ao lago com segurança, obrigado por nos ajudar, agora pode seguir seu caminho em paz.

O louva-deus salta e segue em direção á floresta, Nikolai corre até a beira do lago e mostra á Sofia a entrada que leva até o oráculo.


-Ali, Sofia! Veja! Ali é a entrada, temos que nadar até lá!

-Então é ali que vive a sereia?

-Na verdade ela vive nas profundezas do lago, temos que chegar até aquele ponto, e então mergulharemo. Espere! Como vamos fazer pra você mergulhar?

-Hora, Nikolai, esqueceu que estou com minha máscara de oxigênio, ou você acha que eu nasci com um aquário na cabeça?

-Puxa, é mesmo, não me dei conta deste detalhe, é que vocês humanos são tão esquisitos. Não acharia estranho você usar um aquário na cabeça.
Nikolai começa a rir, logo os dois caem na gargalhada.

-Ta bom Nikolai, e quanto á você? Você pode mergulhar?

-Bem, sendo na água não tem problema, já, se tivéssemos que atravessar uma lava de vulcão, ai teríamos um sério problema, pois eu derreteria.

-Bom, Nikolai, neste caso empatamos, pois eu também não sobreviveria ao fogo.
Agora vamos! Volte pro meu bolso.
Acho que não vou precisar nadar, pois este lago não me parece tão fundo.

-Você que pensa, Sofia, quando chegarmos naquele ponto, você vai ver o quanto é fundo este lago.


Sofia entra no lago, a água lhe bate nos joelhos.
Ao se aproximar do ponto, a água lhe cobre a cintura, ela então avista a entrada e senti um arrepio ao ver um imenso redemoinho brilhante.

-O que é isto Nikolai? Pergunta Sofia, assustada.

-Esta é a entrada, temos que mergulhar neste redemoinho, ele nos levará direto para o fundo.

-Estou com medo Nikolai, estou tendo um mau pressentimento.

-Se você está com medo, então vamos voltar, mas a única maneira de encontrarmos o oráculo das fadas, é mergulhando neste redemoinho, só assim poderemos ter uma chance para salvar a princesa, mas se você quer desistir, poderemos encontrar uma outra maneira.

-Não Nikolai, não vou desistir agora que chequei até aqui! Segure-se firme!


Sofia se joga no redemoinho, ao mergulhar, é envolvida por uma cortina luminosa de água. Eles descem como se estivessem caindo em um túnel.
Após alguns segundos, chegam ao fundo do lago.

-Descemos tão depressa Nikolai! Meus olhos ainda estão ofuscados! Nossa! Como é lindo aqui em baixo, é tudo tão claro, veja quantos peixinhos.
Porque você está tremendo Nikolai?

-A última vez que tive um encontro com um peixe, não fui muito feliz.
Fui engolido inteiro, fiquei dias na barriga daquele peixão.
Só de lembrar me dá arrepios.

-Claro, como eu pude me esquecer do seu conto.
O boneco saltitante jogou você no rio, e um peixe o engoliu inteiro, mas no final tudo deu certo. Você voltou pra casa são e salvo, a propósito Nikolai, você reencontrou sua bailarina?

-Bem, digamos que sim, mas como eu já lhe disse antes, nem tudo o que acontece no meu mundo é como no conto de fadas, e eu não gosto muito de falar sobre este assunto.

-Muito bem soldadinho, então vamos mudar de assunto, mas poderia também parar de tremer. Você está fazendo cócegas, tremendo desse jeito, não precisa ter medo, você está protegido no meu bolso.


Nikolai coloca a cabeça para fora e fica nervoso ao ver pequenos peixes passeando em volta do capacete de Sofia, eis que então, algo mais á frente lhe chama atenção.

-Ali, Sofia! É ali que mora o oráculo das fadas!

Sofia fita seus olhos em direção á luz que emana á sua frente, e fica maravilhada com o castelo de cristal que surgi nas profundezas do lago.


-Um castelo de cristal! Nossa! Nunca imaginei que pudesse existir um castelo assim! É tão lindo! Quem são aqueles que estão cercando o castelo?

-São os centuriões! Eles protegem o oráculo, também são feitos de cristal.

-De cristal?

-Sim, são guerreiros de cristal, tudo aqui é feito de cristal, Sofia.

-São tão altos e brilhantes......-Veja Nikolai! A porta está se abrindo!

-Isto é um bom sinal Sofia, acho que o oráculo estava á nossa espera.


Sofia e Nikolai passam pelos centuriões, que os abrem caminho, eles então atravessam a porta. Sofia se encanta com a beleza do castelo.
Suas luzes azuis transluzem em toda a parte.
Um vulto surge no corredor.
O ser não diz nenhuma palavra, só acena com a mão para seguirem-no.
Sofia o fita e fica intrigada com o aspecto da criatura, que parece uma tartaruga, muito, muito velha, vestida com uma túnica branca.
A tartaruga então aponta para uma porta e faz sinal para que entrem.
Sofia pega Nikolai e o coloca em seu ombro.
Os dois ficam encantados com a beleza do salão, que está todo iluminado com uma luz prateada. Uma suave voz então ecoa nas paredes, Nikolai e Sofia fitam em direção ao som, que ecoa novamente.

-Sejam bem vindos ao meu castelo.

-É ela, Sofia! O oráculo!!!!
Nossa! Nunca imaginei que ela fosse tão linda assim! É mais linda que as sereias do mar.

-Sejam bem vindos meus queridos, é uma honra recebê-los em meu castelo. Diz a linda fada, com um doce sorriso nos lábios.

-Então a senhora é o oráculo das fadas? Pergunta Sofia, maravilhada.

-Sim Sofia, sou eu.

-A senhora sabe o meu nome!!!!

-Claro que sei, todos nós sabemos o nome da corajosa menina que veio de Kiev para nos ajudar.

Sofia e Nikolai se olham. Sofia então diz.

-Ajudar? Mas como eu posso ajudar? Nós é que viemos pedir sua ajuda ! Precisamos encontrar a fada lilás! Só ela pode despertar a princesa Aurora. - A senhora pode nos ajudar?

-Há tempo não há vejo, a fada lilás nunca mais voltou para o mundo dos contos.
A última vez que há vi foi quando a princesa nasceu. Depois daquele dia ela partiu.

-Mas vocês não eram amigas?

-Nós éramos muito ligadas, éramos como irmãs, dividíamos nossos segredos, nos conhecemos há muito tempo, antes mesmo de eu me tornar um oráculo.
O único segredo que ela me escondeu foi o motivo que á levou partir.
A única coisa que ela me disse, é que precisava partir para manter o equilíbrio dos dois mundos.

- Equilíbrio dos dois mundos?

-Sim Sofia, o meu mundo, e o seu mundo.

-Mas para onde ela foi?

-Este foi o segredo que ela não me contou.
Quando a princesa cresceu, a paz continuou reinando no mundo dos contos, enquanto que em seu mundo, muitas coisas horríveis aconteciam.
Guerras em todos os cantos, injustiças, maldades, desigualdades.
Seu mundo sempre esteve á mercê da mão do homem, que ao invés de cuidá-lo, o destrói, e se não bastasse tudo isso, não se respeitam como iguais, não se tratam como irmãos. Todo este mal, todas estas atrocidades refletiram em nosso mundo, e quando isto aconteceu, Adramelech surgiu.
O mal ganhou vida no mundo dos contos.

-Então nós fomos culpados por trazer Adramelech para o seu mundo?

-Nossos mundos estão ligados, Sofia.
São como dois espelhos, tudo o que acontece num, reflete no outro.
Foram vocês que nos criaram, que nos deram vida através de suas inspirações.
Os contadores de estórias, os poetas, os músicos, todo aquele que tem um bom sentimento, que dá valor a vida. Não precisa ser um gênio, ou um artista, basta ser bom e dividir está benção com outras pessoas. Todos os pensamentos bons e todos os atos bons, refletem como um sol no universo. Estamos todos ligados pela mesma magia.

-Se pudesse, mudaria tudo, desfaçaria todo este mal.
Sinto, que se encontrar minha canção, poderei melhorar as coisas no meu mundo e no seu mundo, mas para isto, é preciso encontrar a fada lilás.
Só ela pode despertar a princesa Aurora.
Sem ela não teremos chances.

-A fada lilás é muito sábia, ela deve saber o que está fazendo.
Tem de existir uma razão para você estar aqui, Sofia.
Você precisa encontrar a princesa.
Alguma coisa me diz, que quando encontrá-la, a fada lilás aparecerá.

-Encontrar a princesa? Então terei de ir até castelo sombrio.
Mas como farei para entrar lá?

-Existem duas entradas no castelo, uma através do mundo dos contos, e outra através do seu mundo. Mas a única maneira de chegar até a torre onde a princesa está aprisionada, é entrando pelo mundo dos contos, só assim você poderá encontrá-la.

-Bom, pelo menos não precisarei passar pelos homens amarelos.

Nikolai interrompe Sofia, e com um ar de desanimo, diz.

-E os Kinorks? Como faremos para passar por eles.
São criaturas das sombras, servos de Adramelech.
Eles protegem o castelo, não deixarão ninguém entrar.
Seria melhor enfrentar os homens amarelos, pelo menos eles não tem poderes mágicos, e não são tão feios quanto os Kinorks.

-Como são estes Kinorks, Nikolai?

-São horríveis!!!! Eles tem uma cabeça de rato e o corpo esquelético de um humano.
Suas asas são enormes, e seus olhos são flamejantes como fogo.
Parecem anjos da escuridão, são demônios, Sofia.
Adramelech os criou para formar seu exército do mal.
Se nos pegarem, estaremos perdidos.

-Nós temos que encontrar uma maneira de entrar no castelo sem sermos percebidos! Mas como?

-Eu posso ajudá-la Sofia! Diz a linda sereia.- Posso realizar uma magia para que entrem despercebidos no castelo.

-Uma magia?

-Bem, na verdade é um encantamento, mas creio que só você vai precisar dele!

-Mas e o Nikolai?

-Ele não vai precisar, a não ser que ele queira diminuir ainda mais de tamanho.

-Diminuir de tamanho? Então eu vou encolher? Diz Sofia, espantada.

-É o único jeito de entrarem no castelo sem serem vistos! Só tem um problema!

-Qual?

-Este encantamento só valerá por duas horas, depois você voltará ao seu tamanho normal. O castelo não está tão longe, mas estando os dois pequenos, o caminho se tornará longínquo, por tanto, precisarão de ajuda para chegarem até a trilha, mas isto eu também posso resolver, posso arrumar-lhes um transporte.

-Agradecemos sua ajuda, linda sereia. Diz Sofia, agradecida.

-Agora prepare-se, vou realizar a magia.

A sereia aponta sua varinha mágica em direção á Sofia, pronunciando as palavras mágicas para realizar o encanamento.

-Skrutin, Stafos, Pirlus, Diminuitivus!!!

Sofia diminui de tamanho e fica maravilhada com a magia, ela antão abraça Nikolai.

-Veja Nikolai, estou do seu tamanho! Não é incrível?

-Puxa! Até que enfim! Não vou precisar mais olhar pra cima, e agora eu estou maior que você Sofia!

-É só por causa do seu chapéu de soldado, Nikolai! Nossa! Como fica tudo diferente quando se está pequeno, me sinto uma formiga, é tudo tão grande, veja o tamanho desses peixes Nikolai! São gigantes!

-Agora você entende o meu pavor? Imagina ficar na barriga de um deles! Não gosto nem de pensar.

-Vocês precisam ir agora! Diz o oráculo.-Quando chegarem á superfície, Bogos estará á espera de vocês.

-Quem é Bogos? Pergunta Sofia.

-Bogos é um morcego, ele vive na gruta próxima ao lago, Bogos os levará até a trilha que leva ao castelo, de lá, terão que seguir sozinhos, já está escurecendo, em breve a noite irá chegar. Tenham muito cuidado!!!! os Kinorks são espertos, ainda mas á noite.
Agora vão! E lembre-se Sofia, este encantamento só durará duas horas.
Vocês tem que chegar ao castelo antes que a magia se desfaça.
Venham! Depressa! Entrem dentro desta bolha de ar.
Assim chegarão mais rápido á superfície.

Nikolai diz aliviado.

-Que bom! É melhor chegar á superfície dentro de uma bolha de ar do que dentro da barriga de um peixe!


O oráculo se despede de Sofia e de Nikolai, enquanto a bolha de ar sobe com os dois pequeninos, a linda sereia canta uma doce canção.



Sobe pequena bolha de ar
Faça-os chegar ao seu destino
Sobe lentamente pequena bolha azul
Os leve á superfície
Deixe-os protegidos
Uma única canção
Pode unir os dois mundos
Leve a menina de Kiev
E o soldadinho de chumbo
No castelo sombrio eles devem chegar
Espero que os Kinorks
Eles não tenham de enfrentar
Duas horas
Tic-Tac
O relógio começou a andar
O encanto dura pouco
Eles não podem parar
Sobe, sobe
Pequena bolha
Pois a noite vai chegar
Junto com ela
Os perigos
Na trilha
Eles podem
Encontrar
Sobe, sobe
Sofia
Pois a fada lilás
Você deve encontrar


Nikolai e Sofia chegam á superfície.
A bolha mágica os leva até a beira do lago, onde Bogos os aguarda.

-Já está escuro! Como a noite chegou depressa! Olhe ali na beira do lago, Nikolai, deve ser Bogos, o morcego que o oráculo falou.

-Venham logo! Este lugar é muito perigoso a noite! Diz o morcego.

-Olá Bogos, meu nome é Sofia, e este é Nikolai, o oráculo das fadas disse que você nos ajudaria.

-Sim, eu sei quem são! A menina que veio de Kiev e o soldadinho de chumbo!
As noticias correm rápido aqui no mundo dos contos.
Venham logo! Temos de nos apressar.
Não podemos ser vistos, os Kinorks estão por perto, sinto em lhes dizer, mas Adramelech já sabe que você está aqui, Sofia, e ele não ficou nada contente, mandou até dobrar a guarda no castelo.

-Adramelech!!!!!!! Diz Nikolai, com uma cara de espanto.
Adramelech sabe que você está aqui Sofia! Isto não é bom, não é bom!
Eu não devia ter trazido você para o mundo dos contos!
É tudo minha culpa!

-Não se culpe Nikolai! Estou aqui para ajudar, assim como você me ajudou, lembra?
Se você não tivesse me trazido para cá, os homens amarelos já teriam me pego!
Vai ficar tudo bem, quando chegarmos até a princesa, a fada lilás aparecerá, e tudo voltará como antes no seu mundo.
Agora vamos, não temos a noite toda, temos que chegar logo ao castelo.
Lembre-se do que o oráculo falou, este encantamento só irá durar duas horas.
Vvamos, Bogos está esperando!


Sofia e Nikolai sobem nas costas de Bogos, que logo bate suas asas de morcego e se lança ao breu da noite. Seus olhos brilham na escuridão.
Ele segui voando baixinho, sobe e desce, cortando o ar noturno.
Sofia se segura em Nikolai, que coloca a mão na cabeça, para não perder seu chapéu.
Der repente, a escuridão da noite é tomada por uma forma sinistra.
Ao longe eles veem as torres do castelo, Bogos então aponta com a cabeça.

-Ali! Estou vendo a trilha, está logo ali em baixo, segurem-se!!! Vou pousar!


Bogos inclina suas asas para traz e mergulha na escuridão, chegando rapidamente ao solo, Nikolai reclama do pouso.

-Nossa! Senhor Bogos, poderia ter descido mais devagar!

-Se tivesse demorado mais um pouco, eles teriam nos visto!!!

-Quem? Pergunta Sofia

-Eles!!!! Responde Bogos

Sofia fita seus olhos em meio ao breu escuro e avista os terríveis Kinorks.

-Por Deus!!! Como são horríveis!! Você tinha razão Nikolai, é melhor enfrentar os homens amarelos do que estes monstros! São tão feios que me dão calafrios! Porque os olhos deles estão brilhando, Bogos?

-Eles conseguem enxergar na escuridão, por isso os olhos deles brilham, estão procurando por vocês, terão de ter muito cuidado! Sigam sempre por esta trilha, e não façam barulho. Mais adiante está a entrada do castelo.
A primeira entrada vocês poderão passar por baixo, mas a segunda, terão de abrir com uma chave, só assim poderão entrar dentro do castelo.

-Uma chave? Diz Nikolai- Mas o oráculo não nos falou de nenhuma chave!

-Só abrindo a segunda porta, entrarão no castelo, e para isto, precisarão de uma chave!

-E como conseguiremos esta chave? Pergunta Sofia

-Quando atravessarem a primeira entrada do castelo, chegarão ao salão da guarda de Adramelech. Lá estará o chaveiro, ele guarda todas as chaves do castelo.
Terão de pegar a chave numero dois, mas isso não será tão fácil.
Se acharam os Kinorks horríveis, imagine quando virem o chaveiro.

-Ele também é um demônio? Pergunta Sofia.

-Greg e o “bichinho”de estimação de Adramelech.
Ele o criou desde pequeno, ganhou de presente de um mago.
É uma das criaturas mais horríveis que existe.

-Mais feio que os Kinorks?

-Estou lhe dizendo Sofia, o bicho é horrível, não gosto nem de lembrar da sua aparência. Imagine uma barata gigante com uma cabeça de gente, e ainda por cima com três olhos na testa. É muito nojento, só de lembrar daquelas patas e daquela cara feia, me dá arrepios.

-Uuueeeeegs! Deve ser mesmo nojento! Diz Sofia.

-E o pior ainda não lhes falei.

-E o que poderia ser pior que isto? Pergunta Nikolai

-As chaves estão penduradas no pescoço dele!

-Isso o oráculo também não disse, aliás o oráculo não disse nada disso. Reclama o soldadinho de chumbo.

-Não temos outra escolha, Nikolai, precisamos pegar essa chave.
O tempo está passando, precisamos ir logo, reclamar não vai adiantar nada, temos que enfrentar essa coisa. Agora que chegamos até aqui não vamos desistir.

Sofia e Nikolai se despedem de Bogos e vão até a primeira entrada do castelo.
O lugar está cercado pelos Kinorks, que vasculham todos os cantos.
Sofia então elabora um plano.

- Veja essas folhas Nikolai! Podemos usá-las como disfarce!

- Grande ideia Sofia, com elas nós passaremos despercebidos pelos Kinorks.

- Temos que andar um atrás do outro, veja aquelas formigas!! Veja Nikolai, o formigueiro fica próximo da entrada do castelo, vamos segui-las, pegue esta folha, temos de nos abaixar, vamos seguir a trilha das formigas.

- Nós vamos ter que andar agachados até lá?

- Nikolai! Pare de reclamar e vamos logo antes que eles nos descubram.

Os dois se juntam a trilha das formigas e conseguem passar sem serem notados pelos horripilantes Kinorks. Quanto mais se aproximam do castelo mais demônios aparecem. Duas das criaturas então chamam atenção, eles carregam uma gigantesca botija com um líquido esbranquiçado dentro.

-Nikolai o que é aquilo que estão carregando? Está cheio de moscas em volta.
Veja Nikolai!!!! Estão abrindo o portão!

Meu deus!!!!! O que é aquilo?

Nikolai começa a gaguejar

-Ééééééééé.......o Grrrrrrrreeeee.....gggggg!.

- Então aquilo que estão levando deve ser a comida dele!!Que nojo!!!!!!!!!!!!

- Eu não sabia que esse bicho era tão feio, você quer mesmo fazer isto Sofia?

- Não temos outra escolha Nikolai, temos que pegar aquela chave!! Vamos aproveitar que o portão está aberto e vamos entrar.

Os dois deixam a trilha das formigas e se dirigem até a entrada.
Eles então conseguem entrar antes que o portão se feche.
Com todo cuidado conseguem chegar até os pilares que sustentam o castelo.
Enquanto se escondem entre os pilares, os Kinorks entregam a comida para Greg, que esfomeado enfia a cara dentro da botija e começa a comer vorazmente.
Depois de comer, a barata gigante parece ficar sonolenta e logo começa a pestanejar.

- Veja Nikolai, acho que ele vai tirar um cochilo.
Assim que ele pegar no sono pegaremos a chave!

- Você fala como se isso parecesse tão simples, estou com um mau pressentimento Sofia.

- Não tenha medo Nikolai, nós vamos conseguir, vamos aproveitar que ele está cochilando para chegarmos mais perto.

Os dois se aproximam da criatura e se escondem atrás da botija.

-Nossaaaaaaaa! Diz Nikolai, tampando o nariz - Como esse bicho fede!!!!!!!!!! Que cheiro é esse?

- Deve ser cheiro de barata!!! Se as baratas normais fedem, imagine esse baratão.
Ainda bem que não estou sentindo nada.

- Você diz isto porque está com esse capacete de vidro.
Eu acho que nunca mais vou esquecer esse cheiro!! O que é isso, que barulho é esse?

- Ele está roncando!! Acho que ele dormiu Nikolai!!

- Muito bem menina esperta, o que faremos agora?

- Tive uma ideia!!

- Não sei por que fui perguntar!!!!!!!!!!!

- bom, pelo menos as chaves estão numeradas, um de nós terá que subir até lá em cima e pegar a chave, o outro terá que ficar aqui em baixo vigiando.
O que você escolhe?

- Bem, acho que como soldado, eu deva ficar com o mais arriscado..
Vou ficar vigiando!!!!!!!!!!

- Muito bem senhor soldadinho.
Sabia que você ficaria com o mais arriscado, afinal, não é todo dia que alguém se oferece para servir de isca!

-É claro que eu ficaria com o mais arriscado, sou um soldado não sou?
Espere! Como assim isca?

- No caso de ele acordar você terá de distraí-lo.

- Como assim distraí-lo? Como eu vou distrair uma barata gigante?

- Não se preocupe Nikolai, eu já pensei em tudo, não sei se você reparou, mas ele tem chifres na cabeça.

- Não dá para ser mais especifica menina?

- Se por acaso ele acordar, você atrai ele para dentro da botija e quando ele for atacar você pula fora, se tudo der certo, ele cravará os chifres na botija, então não poderá enxergar. Assim conseguiremos abrir a porta, entendeu?

- Simples assim?

-Bem.... se você quiser pode pegar a chave.
Imagino que o cheiro deve ser bem mais forte lá em cima.
Sem contar que terá que subir por aquelas batas nojentas.
Você quem sabe!

- É........nesse caso, eu acho que prefiro ficar aqui em baixo mesmo.
E pensar que eu tinha medo de ser devorado por um peixe!

- Vai dar tudo certo Nikolai, confie em mim.


Sofia se agacha e se aproxima da criatura que está dormindo.
Ela então sobe em uma das patas e começa escalar a barata, enquanto Nikolai fica de guarda, vigiando.

Sofia consegue chegar até o casco de Greg.
Lá em cima ela se impressiona com a altura, mesmo assim não se deixa abater e logo retoma sua escalada.
Ao se aproximar do pescoço da barata........


Aguardem os proximos capítulos!!!!!!!!!






Uma Canção para Kiev 🎼


Alexsandro Ribeiro


💙














Nenhum comentário:

Postar um comentário