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segunda-feira, 2 de março de 2020

O monólogo de um cavaleiro 💙✒📃





O monólogo de um cavaleiro 🔰


Enquanto as árvores deixam cair suas folhas secas por sobre a tumba fria, um fantasma murmura em sua agonia. Em pé, diante de sua sepultura com sua fria armadura. Apenas um pássaro, uma árvore, e uma pedra, lhe fazem companhia. Com sua espada enferrujada em punho e sua armadura envelhecida, manchada de sangue e lama, o cavaleiro se despede de sua morte, ou o que restou de sua vida humana...




- Eis aqui o que sobrou deste velho cavaleiro! Apenas um corpo se esvaindo na solidão de um túmulo. Junto com sua velha carcaça se vão suas glórias e suas conquistas, e nada mais resta além deste cadáver oriundo.
Ah!! Sim, e sua cruz de chumbo, a cruz que tanto beijou quando travava suas batalhas. Quem foste tu cavaleiro? Um mercenário, um deus, ou um guerreiro? Porque teu semblante é tão triste?
Tivestes a vida de um glorioso rei sem se quer ser coroado.
Tivestes as mulheres mais belas e conhecestes os homens mais sábios.
Vós lutastes em Constantinopla e em nome da santa cruz, defendestes Jerusalém.
Tu protegestes os templários em teu castelo e desvendastes todos os mistérios, há muito escondido nos séculos.
O que mais de ti restou além deste semblante entretecido?
Que agora jazia neste túmulo esquecido.
Ao olhar meu corpo que agora descansa debaixo destas rochas, percebo que tudo que conquistei não foi nada além de uma doce ilusão.
Uma Quimera, uma doce e impetuosa Quimera.
Que levou até os confins da escuridão meu coração.
Nada conquistei além de batalhas sangrentas e morte.
Quantos corpos abati na bravura?
E ainda tinha orgulho em contá-los.
Os corpos deformados pela minha ímpia espada.
Ainda posso ouvir os choros e os gritos que atormentavam meus ouvidos naquele silêncio sagaz.
E quantas cruzes manchadas de sangue seguiam impuras no horizonte?
Ah! Quantas cruzes reluziam naqueles olhos mortos, erguidas por mãos santas e braços tortos. Quantos mortos foram mortos pela minha espada?
Quantas cabeças por mim foram cortadas?
Lembranças amargas me remetem á lucidez da mente, que nega e não mente minhas mentiras inegáveis.
Não adianta pedir perdão quando não há mais chão para se ajoelhar.
Não adianta mais chorar quando não se tem mais olhos para chorar.
Eis o que restou deste velho cavaleiro:
Apenas um fantasma.
Um fantasma atormentado pela feracidade de sua própria consciência.
Respire cadáver imundo, o cheiro que de ti brota.
Foi isto que restou de minhas glórias?
O cheiro fétido de tua carne apodrecida?
Oh! Cadáver infeliz, de que adiantou tanta cicatriz nesse coração apodrecido?
Se ao menos o tivesse preenchido com a sutileza de um outro amor.
O amor que de ti foi tirado pela ignorância de tuas próprias mãos.
Porque a deixaste morrer?
Tivestes medo quando era preciso  ter coragem.
Caístes nas armadilhas do destino entregando-te aos leões covardes.
Ela morreu de saudade, traída pelo silêncio de tua presença.
Onde vós estavas enquanto ela morria de desgosto?
Onde tu estavas cavaleiro valente?
Onde estava tua espada santificada?   





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